quarta-feira, 21 de junho de 2023

“A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA” – UMA ANÁLISE DO LIVRO-IMAGEM COMO OBJETO DE REFLEXÃO DE CONFIGURAÇÃO TRANSMÍDIA CULTURAL E ESTÉTICA

 A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA” 

(UMA ANÁLISE DO LIVRO-IMAGEM COMO OBJETO DE REFLEXÃO DE CONFIGURAÇÃO TRANSMÍDIA CULTURAL E ESTÉTICA)*

 

Jacira C. da Costa (UCS )¹

Flávia B. Ramos (UCS – Caxias do Sul)²


A LEITURA VISUAL OU DE IMAGENS

Em termos de ilustração ainda existe uma discussão a respeito à iniciação de leitura de imagens para crianças. Partindo deste prisma, devemos considerar que o olhar através dos sentidos da visão é um dos primeiros órgãos a se desenvolver antes da fala com o uso das palavras através dos primeiros balbucios. O olhar pode ser tátil.

A IMAGEM E A VISUALIDADE

Oliveira (2008), afirma que a verdadeira imagem narrativa para crianças deve ser aquela que surge pelo encantamento, harmoniza e respeita o incipiente cognitivo visual do leitor com os objetos do universo conhecido desde a mais tenra idade. O que poderíamos acrescentar que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes literárias. 

A MATERIALIDADE E A VISUALIDADE

O livro-imagemA Grande Viagem da Senhorita Prudência” foi selecionado para fins de análise e objeto de reflexão. Originário do francês, as ilustrações de Charlotte Gastaut (2011) apresentam como características as seguintes funções: expressiva, estética, narrativa, lúdica e metalinguística (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004)

Com a materialidade repleta de traços em cores vibrantes, texturas variadas, páginas com vazados e recortes que configuram uma estética de ilusão ótica em 3D, tais que prometem interações entre a obra literária e os leitores de todas as idades. 

Tendência: O que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes literárias compreendendo que a experiência da leitura não é somente cognitiva, como também pode e deve ser sensível aos olhos (RAMOS & NUNES, 2016). 

Alfabetização visual: A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens. 

Contudo, diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).

A Obra e a Autora:    A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA:


      Editora Ática (Coleção Giramundo)

      Literatura Infantil Francesa

      Autoria e ilustrações de Charlotte Gastaut (2010)

      Prudência” (De origem francesa “Prudence”)

      É uma homenagem à filha da autora. 

    Por esta razão, a editora decidiu não traduzir para “Prudência” na inscrição que aparece na perna da boneca de brinquedo no quarto da menina da menina nas páginas 5, 45, 47, 49 e 50.


Projeto Gráfico e Materialidades da Obra

As ilustrações de Charlotte Gastaut são repletas de cores, traços e formas vibrantes, que prometem uma possível interação entre obra literária e o leitor de todas as idades.

Funções: expressiva, estética, narrativas; lúdicas e metalinguística- “A Odisseia de Ulisses e “Alice no País das Maravilhas” - (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004)

O livro possui 52 páginas.

As páginas não são numeradas.

Formato: Retangular vertical

Dimensões: 25,5 cm x 33,5 cm.

Capa dura

Duas Texturas: Lombada em tecido aveludado em cores verde: tom sobre tom

Tipografia em cores da capa: douradas contrastantes a faixa rosa

Dois mundos: A GRANDE VIAGEM


Capa e Segunda Capa/Contra-Capa


ENREDO

A história inicia no quarto de Prudência. E quando a sua mãe a está chamando para sair. Porém, a menina precisa arrumar o quarto antes de sair. Sua mãe quer tudo organizado e aparenta estar com pressa.

E com isso começa uma profusão de imperativos: " Onde estão as meias? E os sapatos? Escove os dentes! Calce os sapatos! Comporte-se! Arrume seu quarto! Venha logo!".

Mas, enquanto ela fala do lado de fora do quarto com a filha, a menina aparenta não está nem um pouco preocupada. Ela quer mesmo é brincar.

Prudência então, inicia uma viagem por mundos fantásticos, com as mais incríveis criaturas




ILUSTRAÇÃO - CENÁRIOS EM CORES

 Diagramação: Não há enquadramento do cenário

Quase todos os cenários em páginas duplas;

CÓDIGOS IMAGÉTICOS: Variações entre claro (luz: céu e mar) e sombras (escuras: florestas densas e a noite), onde predominam o branco, azul e o verde em diversos tons;

Contrastes em Projeções: Figura-fundo (Personagens e cenas).

Oliveira (2008) nos aponta que quando se admira uma ilustração, a cor não deve ser analisada a partir de seu próprio significado isolado, pois não sustentaria um critério de análise. 

A TIPOGRAFIA faz parte da narrativa como imagem.



A presença tipográfica surge como imagem narrativa como podemos ver nesta página dupla.

TEXTURAS:

Páginas com vazados, recortes e diferentes texturas em papel.


Páginas com vazados

SONORIDADE AUSCULTATÓRIA (Papel): em um aspecto de gênero de ressonância visual (Oliveira, 2008)

Páginas com recortes



IMAGINÁRIO NA MENTE E A TECNOLOGIA NA MÍDIA

O livro pode conter cenas inimagináveis que nos convidam para serem descobertos no prazer de a rever por diversas vezes. “Seriam como portas secretas para que as crianças possam transpor e realizar plenamente, sua própria imaginação, criação e fantasia” (Oliveira, 2008, p. 50).

Suas camadas de criação artísticas são reveladoras.



 Espaços Planimétricos

Conforme explicado por Oliveira (2008) podemos dizer que esta obra se apresenta como se fosse com espaços contínuos e atmosféricos conhecidos como espaços “planimétricos”.

É como se a história pudesse ser contada à maneira de um livro em pop up.

Aspecto de dimensão em 3D.

 



Segundo Oliveira (2008), 

A cultura narrativa é sempre uma compreensão dos significados antecedentes e consequentes da imagem(...).  São muitos olhares que podemos ter diante da ilustração” 

(p. 32)

Ramos e Paiva (2014) apontam que: 

Na prática pedagógica, como aliado ao letramento literário, o livro infantil pode incentivar o gosto por bens culturais.”

 

Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).


NARRATIVA TRANSMÍDIA:


Esta animação de "A grande viagem da senhorita Prudência" (Editora Ática) foi produzida por Elina Fransson, Sara Kenneryd, Viktoria Anselm e Sara Engberg, alunos da Campus i12, universidade de Eksjö, na Suécia.


Disponível em https://youtu.be/52E2zTfaGM0


NO REINO DE PRUDÊNCIA:

O que Monteiro Lobato contou em palavras sobre o “Reino das Águas Claras”, Charlotte Gastaut nos contou parafraseando-o em imagens.

 

CONSIDERAÇÕES

A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens.

A diagramação oferece uma leitura imagética global, aleatória e simultânea por sua percepção visual

Em síntese, o livro em questão realça a magia e a descoberta em cada camada da obra, de modo a inserir-se no cotidiano das crianças. O que ampliaria o seu repertório imagético e cultural.

Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).

 

REFERÊNCIAS:

GASTAUT, Charlotte. “A Grande Viagem da Senhorita Prudência.”. Coleção Giramundo.  Editora Ática. 2011.

OLIVEIRA, Rui de. Pelos jardins de Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

RAMOS, Flávia B; NUNES, Marília Forgearini. “Ler imagem também é ler literatura”, INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 – p. Disponível em https://www.unigran.br/dourados/interletras/ed_anteriores/n23/conteudo/artigos/13.pdf. Acesso em 12 de março de 2021.

RAMOS, Flávia B; PAIVA, Ana Paula. Dimensão não verbal no livro literário para crianças. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 14 - n. 3 - set-dez 2014. Disponível em https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/5919/3671 

RAMOS, Flávia B.; PANOZZO, Neiva S. P. Entre a ilustração e a palavra: buscando pontos de ancoragem. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid, nº 26, 2004. Disponível em  https://webs.ucm.es/info/especulo/numero26/ima_infa.html 

 

*Trabalho apresentado em forma digital para a II Jornada de Grupo de Pesquisa: Livros para infâncias no século XXI: materialidades e autorias

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

LIVROS DE PANO E MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR

 

 LIVROS DE PANO E MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR

Jacira C. da Costa - UCS

Roger A. de C. Vasconcelos - UCS

Palavras-chave: Livros de Pano. Contador de Histórias. Criança. Educação.

 

A referida pesquisa se caracterizou pelo estudo dos livros de pano utilizados para a contação de histórias, emergiu da disciplina cursada Mediação Cultural: a contação de histórias, na Especialização Literatura Infantil e Juvenil: da composição à educação literária – UCS. Se apresentou como uma pesquisa bibliográfica a partir de Fleck (2007), Girardello (2011) e Vasconcelos (2017). No estudo apresento uma trilha temporal onde atuei como professora na educação infantil e estive responsável pela contação de histórias, bem como, a produção e utilização de livros de pano.

MISCELÂNEA DE HISTÓRIAS:

A história se inicia no espaço escolar ao montar um tapete no chão no qual chamei de “Miscelânea de Histórias” e misturei diferentes narrativas de contos, conforme as crianças circulavam ao redor do tapete a história acontecia com a minha narrativa. 


A história se inicia no espaço escolar ao montar um tapete no chão no qual chamei de “Miscelânea de Histórias” e misturei diferentes narrativas de contos, conforme as crianças circulavam ao redor do tapete a história acontecia com a minha narrativa. 

Nos recursos para a contação utilizei objetos cênicos, fantoches, dedoches, tecidos, papéis celofanes, sinos e outros adereços. 


Por vezes acreditei que somente as escolas devessem disponibilizar estes espaços para diferentes formas de expressão artística, bem como, para contar histórias, quando na verdade os mesmos devem estar em múltiplos lugares conforme corrobora Fleck (2007). 


Promover as diferentes formas de criação e interpretação com os alunos foi uma experiência gratificante e com ela o início da minha jornada como artesã, através da confecção de livros de pano para a contação de histórias.


CONTANDO UM CONTO, VOU LEVAR VOCÊS A OUTRAS HISTÓRIAS - HISTÓRIAS DE TRADIÇÃO SUFI

O primeiro livro que construí foi sobre as histórias de tradição Sufi: "Os Sons do Silêncio". A partir dessa época comecei a me interessar e pesquisar sobre o assunto. Nessa primeira produção obtive uma colaboração da família, minha irmã, que confeccionou as partes que contém crochê, o livro foi feito todo à mão, com costuras e bordado. Fundamentado em muitos estudos e pesquisas sobre a tradição oral foi possível montar as ilustrações dos cenários, personagens e contextos.       


Os Personagens: Rei, Mestre e o Príncipe

PROPOSTA: TECENDO SONHOS...CONSTRUINDO HISTÓRIAS...

Acabei por me redescobrir nos livros, nos quais sempre fui apaixonada. Ao utilizar os livros de pano para a realização da contação de histórias e perceber os pequenos ao tocarem nos livros e reconhecerem diferentes materiais, texturas desencadeou-se um misto de alegria e paixão pelo objeto livro.



Texturas: Partes aplicadas com crochê para formar as ilustrações.

CENÁRIOS:




NARRATIVAS TEXTUAIS E AS TEXTURAS:







As histórias de tradição oral ganharam novas versões nas vozes dos alunos ao recontarem os contos e manusearem os livros de pano. Destaco o uso da expressão corporal, fundamental para a arte da narrativa pelo fato de não ficarmos somente presos aos livros, ao ganhar movimento a história contada. O corpo se tornou uma extensão do livro, é importante exemplificar que não basta somente contar, mas expressar, imitar sons, gestos e trejeitos dos personagens contidos nas histórias. Assim como, estabelecer um convite ao espectador na participação da contação para adentrar na história, como afirma Vasconcelos (2017), as histórias precisam sair dos livros.*





Desde os tempos remotos, as histórias, sejam através de canções e poemas, foram transmitidas oralmente e na atualidade por muitos meios, como o livro de pano. Girardello (2011) registra que os mais idosos e mulheres passavam para os mais jovens e crianças os enredos aprendidos por seus pais, avós e outras pessoas de mais idade. Até hoje, muitos povos preservam e guardam suas tradições através das narrativas contadas com o objetivo de preservar valores e crenças de determinadas culturas. Minha experiência ao contar histórias para as crianças no espaço escolar, com a utilização dos livros de pano reforçou a importância de narrar histórias. Alimentamos a nossa imaginação criativa, lúdica e coletiva. Aquele que sabe muitas histórias já ouviu, leu e contou. Eu e meus alunos contamos histórias com livros de panos e muita criatividade. Quantas histórias podemos contar, bordar e rememorar?

REFERÊNCIAS:

FLECK, Felícia de O. InEnc. Bibli: R. Eletr. Biblioteconomia. CI. Inf., Florianópolis, n. 23, 1º sem. 2007. O CONTADOR DE HISTÓRIAS: uma nova profissão? Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2007v12n23p216/404 Acesso em: 15 de abril de 2021.

GIRARDELLO, Gilka. “A voz quente do coração do rádio”. In: PIETRO, Benita (Org.). Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes. Organização Benita Prieto. - Rio de Janeiro: s. ed, 2011. 240p. Ebook A voz quente do coração Gilka, Disponível em: https://issuu.com/prietoproducoes/docs/00livro_contadoresdehistorias Acesso em: 18 de abril de 2021.

VASCONCELOS, Roger A. de C. “Recursos da Contação de Histórias.” In: Contação de histórias na perspectiva de professoras contadoras: possibilidades de atuação. 2017. 106 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Caxias do Sul, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2017. Acesso em: 18 de abril de 2021.



*Artigo apresentado em forma digital pela UCS (Universidade Caxias do Sul) no VI CEDU 2021 Em Tempos de (In) Sensibilidades: Educação para a Liberdade.

domingo, 22 de maio de 2022

Isto é Uma Caixa...? A Ótica da Literatura Infantil para a Criança

 ISTO É UMA CAIXA...? 

(A Ótica da Literatura Infantil e a Criança)

  

O que é Literatura (Para entrar na infância)?

De acordo com Antônio Cândido (1988), a literatura envolve todas as criações poéticas, ficções ou dramas que está presente em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura e desde os tempos remotos, que alguns chamam de folclore, lendas, chistes e até formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. Seria uma forma de manifestação universal expressa pelo homem em todos os tempos através da linguagem e que se comunica ou entra em contato com o outro como uma espécie de fabulação (Deleuze) ou universo fabulado.

A literatura está presente em diversas formas: Anedota, causo, história em quadrinhos, noticiário policial, canção popular, moda de viola, samba carnavalesco, na história para dormir, dentre outras formas de expressão. Otto Ranke, citado por Antônio Cândido, diz que através do mito "podemos dizer que a literatura é o sonho acordado das civilizações." (Te convido a ler sobre a postagem anterior sobre a "História da da História dos Contos"). E assim como o sonho nos fornece equilíbrio psíquico durante o sono (Jung, 2010), a literatura nos fornece o equilíbrio social (Cândido, 1988). Isso é o fator indispensável à humanização porque atua no inconsciente.

A literatura possui a função de ser um importante instrumento de vivermos dialeticamente acessos possíveis e impossíveis, construir objetos com estrutura e significados humanizados. Poderá conter palavras que dizem nada e imagens que dizem tudo. Poderá conter palavras que internalizam e imagens que nos trazem propostas aos sentidos. Tudo dependerá do ponto de vista do mundo de cada produção de quem transmite e de quem a recebe, em seus significantes e significados. Conforme disse Antônio Cândido, "a boa literatura tem alcance universal."

O que é a Literatura Infantil (Para entrar na criança ou na Infância)?

A literatura infantil que hoje se conhece voltada para crianças recebeu de variadas fontes literárias da tradição oral, que se atualizaram e sofreram modificações, adaptações a cada geração de leitores. Há algumas formas de classificar: Contos de fadas, Contos maravilhosos, Contos da Mamãe Gansa, Contos da Carochinha. A primeira edição paro termo infância de que se tem informações remontam da cultura ocidental conhecido como “Contos de Mamãe Gansa, em 1677” que apresenta uma compilação de uma série de histórias populares adaptadas por Charles Perrault, com pontos de moralidades. No Brasil, são conhecidos como Contos da Dona Carochinha, de Figueiredo Pimentel, que foi publicado, em 1896, que segue as mesmas características, apresentando histórias acompanhadas apenas de uma discreta ilustração em preto e branco. Essa obra foi o marco da produção brasileira para a infância.

Pelos registros, não há quase distinção literária ou registros de livros de história para crianças antes do século XVIII e não se encontra nada registrado antes do período de 1744.

A literatura infantil geralmente é confundida com o livro didático, o conto de fadas ou a história em quadrinhos. Algumas vezes, os contos de fada e a literatura infantil são frequentemente confundidos e tornados sinônimos. Na verdade os contos estão inseridos como um dos gêneros da Literatura Infantil.

Os contos nem sempre foram contados para crianças. Eram contados por e para adultos (Homens e Mulheres) das classe mais pobres. Não fazia parte da educação burguesa da época. Sempre foram carregados de elementos “maravilhosos” com toques de magia, auxiliares fantásticos, fadas enquanto fatores constitutivos da fábula narrativa. Nada é apresentado realisticamente, mas de modo figurado e simbólico como representação da estrutura da realidade social.

A literatura infantil pode ser um gênero literário definido pelo público a quem se destina. Certos textos são considerados pelos adultos como sendo próprios à leitura pela criança e é, a partir desse juízo, que recebem a definição de gênero e passam a ocupar determinado lugar entre os demais livros. Uma classificação do que seja literatura infantil torna-se relativo a partir de uma perspectiva de concepção do que a sociedade tem da criança e de seu entendimento do que seja infância. São conceitos considerados instáveis, uma vez que variam em diferentes épocas e culturas. Segundo Perer Hunt os principais traços do leitor que estariam implícitos no texto infantil são: um leitor em formação, maturidade para uma competência textual e com vivências limitadas por força da idade?

Para a criança ler os signos linguísticos contidos em uma obra literária necessita estabelecer uma forma de comunicação material que prevê a apreciação e que ao mesmo tempo atenda aos seus interesses e respeite as suas possibilidades lúdicas. A estrutura e o estilo das linguagens verbais e visuais devem procurar adequar-se às experiências da criança. Os temas, apresentados de modo a corresponder às expectativas dos pequenos e, ao mesmo tempo, superá-las, mostrando algo novo. A literatura infantil apresenta diversas modalidades de processos verbais e visuais. Tem avançado e desenvolvido uma variedade de desing. atrativos ao público infantil. Dizem que as melhores obras são aquelas que respeitam seu público, permitindo ao leitor infantil possibilidades amplas de dar sentido ao que lê, aprecia, toca, sente e cheira.

Uma boa mediação para estabelecer uma relação entre criança-objeto-livro será decisiva para despertar a curiosidade brincante dos pequenos. E que os estimulem a mergulhar nas obras literárias, e dele, possam adentrar em diversos mundos, encontrar maravilhas inesperadas e espantosas surpresas.

E a Criança e a Infância? Um resgate à infância.

Não irei definir o que é criança e nem infância. A criança de uma maneira universal possui características transculturais, sociais, familiares, pessoais o que inclui brincadeiras, receptividade à cultura, vida escolar, vida familiar, possui laços emocionais com seus próximos, fisiologia e idade cronológica, maturidade, acesso à atividades da vida diária (*Não irei entrar em discussões de não acessos sócio-culturais-econômicos aqui porque este não é o propósito do tema, mas é claro que pode e deve ser discutido!). São abertas aos pensamentos concretos e ao mesmo tempo simbólicos, imaginários e fantasiosos o que torna importante para futuras abstrações cognitivas de linguagem e cultura. Ser criança é um estado de ser em fases. Em termos literais, quando a criança possui acesso aos livros, seja ele didático, paradidático, literário, contos, poesias, dentre outros ela aprende e apreende outros códigos (signos) através de símbolos significativos apresentados ou expressos por diversas formas de linguagem. 

Segundo Hunt (2010), as crianças não produzem os mesmos significados que os adultos, por serem autênticas “desconstrutoras” de texto. Elas estão sempre prontas para ler através dos textos coisas que talvez um adulto não perceba. A criança ao manipular um livro é livre para usá-los de modo extravagante, sem restrições de entendimentos ou preconceitos ou crenças limitantes. Hunt ainda salienta que “Do ponto de vista da criança leitora, todo ato de leitura que reinterprete um texto em termos de um universo de discurso que a criança conheça será um ato de desconstrução, ou um jogo com as palavras”. (p.149) . Ela estará sob a ótica de seu próprio universo. 

Uma vez ouvi dizer que para que Picasso pudesse pintar sua arte que hoje conhecemos, ele precisou resgatar a sua infância.

O que é uma CAIXA?

Veja os exemplos abaixo: O que é uma caixa para um adulto? O que é uma caixa para uma criança?

 

(Isto é uma caixa...?)


Não É Uma Caixa (Português) – por Antoinette Portis - Editora CosacNaify

 

Não é uma caixa, mamãe! (Português) – por

Sol de Ángelis (Autor)


Vê é uma caixa – Por Valéria Belém

 

(O Homem que Amava Caixas – Por Stephen Michael King) - Editora Brinque-Book

Para Não Finalizar:

Segundo Antônio Cândido, a literatura da criança pode não ser a mesma que a literatura para a criança, pois a produção de uma literatura infantil deve evitar uma circunscrição a partir de uma ótica adulta. Desse modo, falando das mães e/ou dos pais também são eles que compram sob a sua ótica de adulto, assim como os (as) professores (as) o recomendam sob a sua ótica de leitura numa vertente pedagógica. E a partir disso, quando chegamos à infância ela perpassa por todas as idades, e pode ser considerada um termo complexo e de conceito instável, da mesma maneira que a literatura infantil não pode ser considerada estável, haja visto que até um adulto sob a ótica infantil se encanta por uma boa literatura infantil pois é um resgate à própria infância.

A Literatura infantil somente poderá alcançar sua verdadeira dimensão artística e estética pela superação dos fatores que intervieram na sua geração.” (Antônio Cândido, 1988).

Portanto, deve abandonar o ponto de vista do adulto para se tornar um fenômeno de simbologia literária de arte universal que conduza o ser humano a uma compreensão de vida, independente da idade ou ação social.

Referências:

HUNT, Peter. Crítica, Teoria e Literatura Infantil. Tradução de Cid Knipel. São Paulo:

Cosacnaify, 2010.

JESUS, Ana Paula da Costa Carvalho de. Histórias e Crianças: palavras simples?

Revista FronteiraZ, São Paulo, n. 6, abril de 2011.