“A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA”
(UMA ANÁLISE DO LIVRO-IMAGEM COMO OBJETO DE REFLEXÃO DE CONFIGURAÇÃO TRANSMÍDIA CULTURAL E ESTÉTICA)*
Jacira C. da Costa (UCS )¹
Flávia B. Ramos (UCS – Caxias do Sul)²
A LEITURA VISUAL OU DE IMAGENS
Em termos de
ilustração ainda existe uma discussão a respeito à iniciação de leitura de
imagens para crianças. Partindo deste prisma, devemos considerar que o olhar
através dos sentidos da visão é um dos primeiros órgãos a se desenvolver antes
da fala com o uso das palavras através dos primeiros balbucios. O olhar pode ser tátil.
A IMAGEM E A VISUALIDADE
Oliveira (2008), afirma que a
verdadeira imagem narrativa para crianças deve ser aquela que surge pelo
encantamento, harmoniza e respeita o incipiente cognitivo visual do leitor com
os objetos do universo conhecido desde a mais tenra idade. O que poderíamos
acrescentar que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes
literárias.
A MATERIALIDADE E A VISUALIDADE
O livro-imagem “A Grande Viagem da Senhorita Prudência” foi selecionado para fins de análise e objeto de reflexão. Originário do francês, as ilustrações de Charlotte Gastaut (2011) apresentam como características as seguintes funções: expressiva, estética, narrativa, lúdica e metalinguística (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004).
Com a materialidade repleta de traços em cores vibrantes, texturas variadas, páginas com vazados e recortes que configuram uma estética de ilusão ótica em 3D, tais que prometem interações entre a obra literária e os leitores de todas as idades.
Tendência: O que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes literárias compreendendo que a experiência da leitura não é somente cognitiva, como também pode e deve ser sensível aos olhos (RAMOS & NUNES, 2016).
Alfabetização visual: A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens.
Contudo, diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).
A Obra e a Autora: “A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA”:
• Editora Ática
(Coleção Giramundo)
• Literatura Infantil
Francesa
• Autoria e ilustrações
de Charlotte Gastaut (2010)
• “Prudência” (De origem francesa “Prudence”)
• É uma homenagem à filha da autora.
• Por esta razão, a
editora decidiu não traduzir para “Prudência” na inscrição que aparece na perna
da boneca de brinquedo no quarto da menina da menina nas páginas 5, 45, 47, 49
e 50.
Projeto Gráfico e Materialidades da Obra
As ilustrações de Charlotte Gastaut são repletas de cores, traços e formas vibrantes, que prometem uma possível interação entre obra literária e o leitor de todas as idades.
Funções: expressiva, estética, narrativas; lúdicas e metalinguística- “A Odisseia de Ulisses e “Alice no País das Maravilhas” - (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004)
O livro possui 52 páginas.
As páginas não são numeradas.
Formato: Retangular vertical
Dimensões: 25,5 cm x 33,5 cm.
Capa dura
Duas Texturas: Lombada em tecido aveludado em cores verde: tom sobre tom
Tipografia em cores da capa: douradas contrastantes a faixa rosa
Dois mundos: A GRANDE VIAGEM
A história inicia no quarto de Prudência. E quando a sua mãe a está chamando para sair. Porém, a menina precisa arrumar o quarto antes de sair. Sua mãe quer tudo organizado e aparenta estar com pressa.
E com isso começa uma profusão de imperativos: " Onde estão as meias? E os sapatos? Escove os dentes! Calce os sapatos! Comporte-se! Arrume seu quarto! Venha logo!".
Mas, enquanto ela fala do lado de fora do quarto com a filha, a menina aparenta não está nem um pouco preocupada. Ela quer mesmo é brincar.
Prudência então, inicia uma viagem por mundos fantásticos, com as mais incríveis criaturas
ILUSTRAÇÃO - CENÁRIOS EM CORES
Quase todos os cenários em páginas duplas;
CÓDIGOS IMAGÉTICOS: Variações entre claro (luz: céu e mar) e sombras (escuras: florestas densas e a noite), onde predominam o branco, azul e o verde em diversos tons;
Contrastes em Projeções: Figura-fundo (Personagens e cenas).
Oliveira (2008) nos aponta que quando se admira uma ilustração, a cor não deve ser analisada a partir de seu próprio significado isolado, pois não sustentaria um critério de análise.
A TIPOGRAFIA faz parte da narrativa como imagem.
TEXTURAS:
Páginas com vazados, recortes e diferentes texturas em papel.
SONORIDADE AUSCULTATÓRIA (Papel): em um aspecto de gênero de ressonância
visual (Oliveira, 2008)
IMAGINÁRIO NA MENTE E A TECNOLOGIA NA MÍDIA
O livro pode conter cenas inimagináveis que nos convidam para serem descobertos no prazer de a rever por diversas vezes. “Seriam como portas secretas para que as crianças possam transpor e realizar plenamente, sua própria imaginação, criação e fantasia” (Oliveira, 2008, p. 50).
Suas camadas de criação artísticas são reveladoras.
Conforme explicado por Oliveira (2008) podemos dizer que esta obra se apresenta como se fosse com espaços contínuos e atmosféricos conhecidos como espaços “planimétricos”.
É como se a história pudesse ser contada à maneira de um livro em pop
up.
Aspecto de dimensão em 3D.
Segundo Oliveira (2008),
“A cultura narrativa é sempre uma compreensão dos significados antecedentes e consequentes da imagem(...). São muitos olhares que podemos ter diante da ilustração”
(p. 32)
Ramos e Paiva (2014) apontam que:
“Na prática pedagógica, como aliado
ao letramento literário, o livro infantil pode incentivar o gosto por bens
culturais.”
Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).
NARRATIVA TRANSMÍDIA:
Disponível em https://youtu.be/52E2zTfaGM0
NO REINO DE PRUDÊNCIA:
O que Monteiro Lobato contou em palavras sobre o “Reino das Águas
Claras”, Charlotte Gastaut nos contou parafraseando-o em imagens.
CONSIDERAÇÕES
A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens.
A diagramação oferece uma leitura imagética global, aleatória e
simultânea por sua percepção visual
Em síntese, o livro em questão realça a magia e a descoberta em cada
camada da obra, de modo a inserir-se no cotidiano das crianças. O que ampliaria
o seu repertório imagético e cultural.
Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as
ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de
comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o
fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes
suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA
& LESSA, 2014).
REFERÊNCIAS:
GASTAUT, Charlotte. “A Grande Viagem da Senhorita Prudência.”. Coleção Giramundo. Editora Ática. 2011.
OLIVEIRA, Rui de. Pelos jardins de Boboli: reflexões sobre a arte
de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008.
RAMOS, Flávia B; NUNES, Marília Forgearini. “Ler imagem também é ler
literatura”, INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23,
Março/Setembro 2016 – p. Disponível em https://www.unigran.br/dourados/interletras/ed_anteriores/n23/conteudo/artigos/13.pdf. Acesso em 12 de
março de 2021.
RAMOS, Flávia B; PAIVA, Ana Paula. Dimensão não verbal no livro
literário para crianças. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 14 - n.
3 - set-dez 2014. Disponível em https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/5919/3671
RAMOS, Flávia B.; PANOZZO, Neiva S. P. Entre a ilustração e a palavra:
buscando pontos de ancoragem. Revista de estudios literarios. Universidad
Complutense de Madrid, nº 26, 2004. Disponível em https://webs.ucm.es/info/especulo/numero26/ima_infa.html