quarta-feira, 21 de junho de 2023

“A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA” – UMA ANÁLISE DO LIVRO-IMAGEM COMO OBJETO DE REFLEXÃO DE CONFIGURAÇÃO TRANSMÍDIA CULTURAL E ESTÉTICA

 A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA” 

(UMA ANÁLISE DO LIVRO-IMAGEM COMO OBJETO DE REFLEXÃO DE CONFIGURAÇÃO TRANSMÍDIA CULTURAL E ESTÉTICA)*

 

Jacira C. da Costa (UCS )¹

Flávia B. Ramos (UCS – Caxias do Sul)²


A LEITURA VISUAL OU DE IMAGENS

Em termos de ilustração ainda existe uma discussão a respeito à iniciação de leitura de imagens para crianças. Partindo deste prisma, devemos considerar que o olhar através dos sentidos da visão é um dos primeiros órgãos a se desenvolver antes da fala com o uso das palavras através dos primeiros balbucios. O olhar pode ser tátil.

A IMAGEM E A VISUALIDADE

Oliveira (2008), afirma que a verdadeira imagem narrativa para crianças deve ser aquela que surge pelo encantamento, harmoniza e respeita o incipiente cognitivo visual do leitor com os objetos do universo conhecido desde a mais tenra idade. O que poderíamos acrescentar que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes literárias. 

A MATERIALIDADE E A VISUALIDADE

O livro-imagemA Grande Viagem da Senhorita Prudência” foi selecionado para fins de análise e objeto de reflexão. Originário do francês, as ilustrações de Charlotte Gastaut (2011) apresentam como características as seguintes funções: expressiva, estética, narrativa, lúdica e metalinguística (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004)

Com a materialidade repleta de traços em cores vibrantes, texturas variadas, páginas com vazados e recortes que configuram uma estética de ilusão ótica em 3D, tais que prometem interações entre a obra literária e os leitores de todas as idades. 

Tendência: O que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes literárias compreendendo que a experiência da leitura não é somente cognitiva, como também pode e deve ser sensível aos olhos (RAMOS & NUNES, 2016). 

Alfabetização visual: A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens. 

Contudo, diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).

A Obra e a Autora:    A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA:


      Editora Ática (Coleção Giramundo)

      Literatura Infantil Francesa

      Autoria e ilustrações de Charlotte Gastaut (2010)

      Prudência” (De origem francesa “Prudence”)

      É uma homenagem à filha da autora. 

    Por esta razão, a editora decidiu não traduzir para “Prudência” na inscrição que aparece na perna da boneca de brinquedo no quarto da menina da menina nas páginas 5, 45, 47, 49 e 50.


Projeto Gráfico e Materialidades da Obra

As ilustrações de Charlotte Gastaut são repletas de cores, traços e formas vibrantes, que prometem uma possível interação entre obra literária e o leitor de todas as idades.

Funções: expressiva, estética, narrativas; lúdicas e metalinguística- “A Odisseia de Ulisses e “Alice no País das Maravilhas” - (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004)

O livro possui 52 páginas.

As páginas não são numeradas.

Formato: Retangular vertical

Dimensões: 25,5 cm x 33,5 cm.

Capa dura

Duas Texturas: Lombada em tecido aveludado em cores verde: tom sobre tom

Tipografia em cores da capa: douradas contrastantes a faixa rosa

Dois mundos: A GRANDE VIAGEM


Capa e Segunda Capa/Contra-Capa


ENREDO

A história inicia no quarto de Prudência. E quando a sua mãe a está chamando para sair. Porém, a menina precisa arrumar o quarto antes de sair. Sua mãe quer tudo organizado e aparenta estar com pressa.

E com isso começa uma profusão de imperativos: " Onde estão as meias? E os sapatos? Escove os dentes! Calce os sapatos! Comporte-se! Arrume seu quarto! Venha logo!".

Mas, enquanto ela fala do lado de fora do quarto com a filha, a menina aparenta não está nem um pouco preocupada. Ela quer mesmo é brincar.

Prudência então, inicia uma viagem por mundos fantásticos, com as mais incríveis criaturas




ILUSTRAÇÃO - CENÁRIOS EM CORES

 Diagramação: Não há enquadramento do cenário

Quase todos os cenários em páginas duplas;

CÓDIGOS IMAGÉTICOS: Variações entre claro (luz: céu e mar) e sombras (escuras: florestas densas e a noite), onde predominam o branco, azul e o verde em diversos tons;

Contrastes em Projeções: Figura-fundo (Personagens e cenas).

Oliveira (2008) nos aponta que quando se admira uma ilustração, a cor não deve ser analisada a partir de seu próprio significado isolado, pois não sustentaria um critério de análise. 

A TIPOGRAFIA faz parte da narrativa como imagem.



A presença tipográfica surge como imagem narrativa como podemos ver nesta página dupla.

TEXTURAS:

Páginas com vazados, recortes e diferentes texturas em papel.


Páginas com vazados

SONORIDADE AUSCULTATÓRIA (Papel): em um aspecto de gênero de ressonância visual (Oliveira, 2008)

Páginas com recortes



IMAGINÁRIO NA MENTE E A TECNOLOGIA NA MÍDIA

O livro pode conter cenas inimagináveis que nos convidam para serem descobertos no prazer de a rever por diversas vezes. “Seriam como portas secretas para que as crianças possam transpor e realizar plenamente, sua própria imaginação, criação e fantasia” (Oliveira, 2008, p. 50).

Suas camadas de criação artísticas são reveladoras.



 Espaços Planimétricos

Conforme explicado por Oliveira (2008) podemos dizer que esta obra se apresenta como se fosse com espaços contínuos e atmosféricos conhecidos como espaços “planimétricos”.

É como se a história pudesse ser contada à maneira de um livro em pop up.

Aspecto de dimensão em 3D.

 



Segundo Oliveira (2008), 

A cultura narrativa é sempre uma compreensão dos significados antecedentes e consequentes da imagem(...).  São muitos olhares que podemos ter diante da ilustração” 

(p. 32)

Ramos e Paiva (2014) apontam que: 

Na prática pedagógica, como aliado ao letramento literário, o livro infantil pode incentivar o gosto por bens culturais.”

 

Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).


NARRATIVA TRANSMÍDIA:


Esta animação de "A grande viagem da senhorita Prudência" (Editora Ática) foi produzida por Elina Fransson, Sara Kenneryd, Viktoria Anselm e Sara Engberg, alunos da Campus i12, universidade de Eksjö, na Suécia.


Disponível em https://youtu.be/52E2zTfaGM0


NO REINO DE PRUDÊNCIA:

O que Monteiro Lobato contou em palavras sobre o “Reino das Águas Claras”, Charlotte Gastaut nos contou parafraseando-o em imagens.

 

CONSIDERAÇÕES

A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens.

A diagramação oferece uma leitura imagética global, aleatória e simultânea por sua percepção visual

Em síntese, o livro em questão realça a magia e a descoberta em cada camada da obra, de modo a inserir-se no cotidiano das crianças. O que ampliaria o seu repertório imagético e cultural.

Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).

 

REFERÊNCIAS:

GASTAUT, Charlotte. “A Grande Viagem da Senhorita Prudência.”. Coleção Giramundo.  Editora Ática. 2011.

OLIVEIRA, Rui de. Pelos jardins de Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

RAMOS, Flávia B; NUNES, Marília Forgearini. “Ler imagem também é ler literatura”, INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 – p. Disponível em https://www.unigran.br/dourados/interletras/ed_anteriores/n23/conteudo/artigos/13.pdf. Acesso em 12 de março de 2021.

RAMOS, Flávia B; PAIVA, Ana Paula. Dimensão não verbal no livro literário para crianças. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 14 - n. 3 - set-dez 2014. Disponível em https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/5919/3671 

RAMOS, Flávia B.; PANOZZO, Neiva S. P. Entre a ilustração e a palavra: buscando pontos de ancoragem. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid, nº 26, 2004. Disponível em  https://webs.ucm.es/info/especulo/numero26/ima_infa.html 

 

*Trabalho apresentado em forma digital para a II Jornada de Grupo de Pesquisa: Livros para infâncias no século XXI: materialidades e autorias