sábado, 20 de fevereiro de 2021

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADA (Compreensão e Interpretação em Camadas)

 A Importância dos Contos de Fada 

(Compreensão e Interpretação em Camadas)


          Marie Louise Von-Franz nos diz que os contos de fada são a mais pura e simples expressão dos processos psíquicos do inconsciente coletivo. São conhecidos como arquétipos primitivos. São fatos que são similares aos nossos sonhos e fantasias pessoais que contém símbolos universais. Os contos de fada nos fornecem o melhor material cultural consciente, mais amplo que os mitos e as lendas, pois espelham com clareza as estruturas básicas da psique humana. Os contos de fada são maneiras metafóricas de explicar fatos através de linguagens figuradas e eventos simbólicos, cujo significado psicológico causa efeito individual e coletivo. No entanto, quando se distorce um conto de fada, ela deixa de ser uma ciência, pois ela descaracteriza o original, mesmo que ela possua a liberdade de induzir a este ato, segundo Franz (1984). Retomar a leitura, a interpretação e a reinterpretação dos contos de fada, pode se tornar um grande refrigério para a alma, pois podemos resgatar impulsos, sonhos e instintos perdidos no tempo, por conta das influencias sócio-culturais externas. Eles indicam como o ser humano lida com as coisas ou os problemas da vida que são típicas da espécie humana. 

           Para Bettelheim (2007) as histórias de fadas revelam verdades importantes sobre a vida. Segundo Franz (1984), o estudo dos contos de fada é essencial por delinear a base humana universal. Os contos apresentam uma linguagem que todos entendem, independente de idade, raça e cultura. Todos os contos de fada descrevem um fato psíquico, porém sua interpretação é difícil e complexa por representar em seus diferentes aspectos milhares de versões e modificações que variam de acordo com a cultura.

        Os contos de fada possuem a função de lidar com os sentimentos mais profundos de forma subliminar que podem nos conduzir a um processo de maturação.

          Os personagens e os acontecimentos dessas histórias representam os pensamentos primitivos dos arquetípicos coletivos e simbolicamente, sugerem a necessidade de se alcançar um estado cada vez mais elevado do processo de individuação. Os contos de fadas direcionariam a criança para a descoberta de sua identidade e também sugerem as experiências que são necessárias para que ela possa desenvolver ainda mais o seu eu. Todas essas histórias de conto de fada possuem lições de vida do qual poderemos seguir e nos projetar através desses arquétipos subliminares em caracterizado em cada personagem. 

 

            Há autores que diferenciam histórias de acordo com o interesse de temas por faixas de idade. Em que acreditam que cada idade tem capacidade de compreensão ou aprecia mais determinados temas. Segundo Bettelheim (2016), não temos como saber em que faixa de idade um conto específico será mais importante para uma determinada criança específica. Assim como, não podemos decidir sobre e para elas, qual dos vários contos lhe deveriam ser contado num determinado momento ou idade sem um objetivo específico. Desse modo, só a própria criança poderia determinar e revelar pela força com que ela irá se sentir atraída e reagir emocionalmente sobre o sentido em que um conto de fadas evoca na sua imaginação inconsciente. A própria criança indicará se certa história se tornou importante para ela, seja respondendo de imediato, seja pedindo para que lhe seja contada repetidas vezes. A resposta sempre vem acompanhada de um entusiasmo contagiante da criança pela história, no qual esta se torna importante para ela.

            Segundo Franz (1990) quando dormimos e sonhamos, principalmente as crianças, as nossas almas se abrem e nesses sonhos, quando identificamos a presença dos animais é porque alcançamos os nossos sentimentos mais primitivos e instintivos.

          As experiências e reações da criança são em sua maior parte inconscientes e geralmente permanece assim até que ela atinja uma idade e compreensão mais madura.  É sempre considerado invasivo interpretar os pensamentos inconscientes, no caso da criança, ao contar-lhe uma história. É especialmente importante permitir à ela que interprete e conte a sua maneira (Para alguns, a moral) de entender a história através do ponto de vista dela. Explicar para uma criança porque um determinado conto de fadas é tão emocionante, destrói, além de tudo, o encantamento da própria história e o sentido que isto pode trazer à criança. O que depende também, em entender a criança em não saber absolutamente o motivo de estar tão encantada com a história a ela contada. As interpretações adultas dos contos de fada possuem um ponto de vista da perspectiva de um adulto, o que pode deslocar da criança a oportunidade de sentir por ela mesma.

            Segundo Bettelheim (2007), a criança provavelmente compreenderia os significados de cada história em diferentes formas e em dependência de sua maturidade em idade. E isso pode ser visto em diversas camadas  que um obra pode apresentar. E conforme ela cresce e vivência certos significados até atingir a maioridade, ela compreenderá de forma adicional o mesmo conto de fadas. As mensagens dos contos de fada se tornariam cada vez mais significativas por intermédio da própria experiência de desenvolvimento de vida. As camadas que existem e estão guardadas de forma subliminar serão descortinadas ao longo do tempo, ou talvez, ao mesmo tempo.

 

Referências:

 

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 32ª ed. São Paulo: Paz e Terra. (2016).

CORSO, Diana L. e CORSO, Mário. A Psicanálise na Terra do Nunca (Ensaios sobre a Fantasia). Porto Alegre: Penso. (2011).

FRANZ, Marie-Louise Von. A Individuação nos Contos de Fada. São Paulo: Paulus. (1984).

FRANZ, Marie-Luise Von. A Interpretação dos Contos de Fada. São Paulo: Edições Paulinas. (1990).

JUNG. C. G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Happer Colling, Brasil, 3ª Ed. (2016).