sexta-feira, 23 de julho de 2021

ACESSIBILIDADE LITERÁRIA PARA TODOS

ACESSIBILIDADE LITERÁRIA: LIVRO AO ALCANCE DE TODOS!


Será que deixamos os livros ao alcance dos pequenos e futuros leitores?

De acordo com alguns estudos, a apreciação pela leitura deve ser despertado nos primeiros anos de vida, de forma lúdica e espontânea, o que implica a presença de livros ao alcance dos pequenos (O que inclui também as crianças que nascem com algum tipo de deficiência).
Em sua dimensão material, a obra literária deve proporcionar ao pequeno leitor, o acesso e o contato com diferentes materialidades em tamanhos, formas, texturas que permeiam por experiências sensoriais (Ver/ olhar, tocar, mexer, apertar, balançar, rodar, sentir, cheirar, etc.) que despertem a sua corporeidade e que são importantes para o desenvolvimento infantil. Além da motivação expressiva de interatividade, curiosidade, imaginação, entre outras funções.
Os livros podem ser constituídos seu formato em cartonados, de panos, plásticos de boa durabilidade, de capa dura na sua materialidade, o que segundo alguns pesquisadores, deve atender ao universo infantil. Mas e quanto aos de brochura?
Segundo Yolanda Reyes os livros devem estar acessíveis para todos afim de que possam manipular (Girar, por exemplo), tocar, sentir, cheirar, colocar à boca...Colocar à boca? Sim! Pois é através desse sentido que a criança possui suas primeiras percepções de mundo.
Na primeira infância, a apreciação pela leitura deve ser integrado às competências naturais das crianças para que constituam e construam significados. São eles que elegem os livros por seus interesses atrativos. Os bebês são fascinados por cores, cantilações, temas relacionados à natureza, animais e elementos da vida cotidiana.

BORACESSIBILIZAR?
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quinta-feira, 1 de julho de 2021

UMA CORPOREIDADE LITERÁRIA BRINCANTE ATRAVÉS DO “LIVRO CLAP” DE MADALENA MATOSO

 UMA CORPOREIDADE LITERÁRIA BRINCANTE ATRAVÉS DO “LIVRO CLAP” DE MADALENA MATOSO

Por Jacira C. da Costa*


Incentivar a apreciação e o gosto pelas artes literárias pode ser iniciado desde a mais tenra idade. Uma reflexão sobre a criança pequena, literatura infantil e corporeidade é uma possibilidade de envolvê-los de forma vivêncial e experiencial, em variadas linguagens através da relação entre o corpo: no sentir, pensar e agir sobre o objeto (livro) numa perspectiva de significados abrangentes socioculturais, bem como sua relevância na especificidade individual que refletirá na consciência coletiva. Um artigo novo que está no meu blog foi elaborado com base em alguns estudos realizados em uma das disciplinas do curso de Pós-graduação em Literatura Infanto juvenil. Neste artigo, abordo sobre como se dá esse primeiro contato entre a criança consigo mesma (experiência sensorial e perceptiva), na relação com o outro, como os primeiros mediadores (pais, cuidadores e familiares) através das primeiras falas e o uso das linguagens sociais. E finalmente, os seus primeiros contatos afetivos, motores e cognitivos com o objeto, no caso, as obras literárias.

 

 

COMEÇAREMOS PELO PRÓPRIO CORPO... 

 O Pensar é uma Atividade Corporal. (Profº Walter Roberto Correia)

Segundo Almeida (2000, p. 38) citada por Maciel (2011), o primeiro brinquedo utilizado pela criança é o seu próprio corpo, no qual sua exploração se inicia nos três primeiros anos de idade. Em seguida, a criança começa a explorar objetos do meio ambiente em que vive dos quais provocam estímulos visuais, auditivos, cinestésicos ou proprioceptivos gustativos, olfativos.  Girardi (1995) aponta que alguns autores se colocam sobre a importância da vivência corporal e como, forma educativa, auxilia a pessoa a encontrar harmonia com ela mesma, para depois harmonizar-se com o outro. Por ser o brincar prazeroso e importante na vida do ser humano, a brincadeira, se funde entre a realidade e a fantasia interagindo de forma a promover a criatividade, além de transformar o meio em que se vive.

Notadamente, o corpo é um conjunto de estruturas e funções que se comunicam por gestos e expressões, seja pela parte e/ou pelo todo, com ou sem intenção, espontâneo ou planejado ou treinado, vivido, percebido e sentido, seja pela dor física ou das emoções. Acredita-se que todo o pensamento e sentimento podem ser expressos através do nosso corpo, seja por gestos, mímicas, expressões, comunicações através de palavras pronunciadas pela fala. O tom de voz e a musicalidade enunciadas podem revelar o emocional, os sentimentos e os pensamentos. A linguagem corporal procura integrar sensações, percepções, imaginações, emoções, descobertas que podem ser revelados através de experiências que lhe garantam a segurança e o prazer. Na infância, a linguagem corporal deve oferecer ao ser, as diversas possibilidades de explorar, se conhecer e afirmar-se como indivíduo. Essa vivência corporal deve ser através do lúdico. Tudo está no corpo, que perpassam por uma historicidade de vida, seja por aprendizagens, atribuição de valores, conquistas, derrotas, frustrações, medos, valentias, amores, ódios, desejos, morte. E para entender esse corpo é preciso experimentar, vivê-lo, senti-lo, pensá-lo, percebê-lo, representá-lo em sua pluralidade inserido também neste meio sociocultural.

 

Livro CLAP de Madalena Matoso (Editora Tangerina)

PASSANDO PELO RECONHECIMENTO DO OUTRO... 

 A poesia é a forma que o bebê tem a voz do outro.” (Yolanda Reyes)

Quando a criança está saindo da fase dita como egocêntrica, ela procura o outro. A descoberta de si proporciona e possibilita a descoberta do outro e do grupo, por momentos de socialização. O que a permitirá entender os limites do próprio corpo assim como também, a importância do companheirismo. Pelo rosto passam as emoções humanas e o bebê percebe isso através deste elo da “leitura facial”. É pela voz do outro que o bebê entende que possui essa voz, ao mesmo tempo que entende e escuta. Segundo Yolanda Reyes, para o bebê, o livro é parte do outro. E quando ela descobre que o objeto vai além da extensão do seu corpo inteiro, ela compreende que poderá compartilhar, manipular, perceber e sentir o objeto, no caso, um livro. Consequentemente, estes deixam de ser simples objetos, para se tornarem algo que pode ser apreciado, estimular a sua imaginação ou fantasias, incentivar a criatividade, aflorar a admiração estética das obras literárias. Se a “poesia é a infância da língua” (BARROS, 2010, s.p. citada por JUNQUEIRA, 2018) nada mais plausível que trazê-la para o universo da infância. “Irmanadas, a palavra poética (infância da língua) e a criança (infância da vida) interagem, como cirandeiras na roda ritmada das vivências com as parlendas, trava-línguas, entre outras”. (JUNQUEIRA, 2016).

 

Livro CLAP de Madalena Matoso  (Editora Tangerina)

UM INÍCIO DE UM TRIÂNGULO AMOROSO – A CRIANÇA, O LIVRO E A MEDIAÇÃO DO OUTRO ÀS OBRAS LITERÁRIAS ... 

 Entre o eu e o outro há o objeto.

Segundo Zilberman (2003, Apud JUNQUEIRA, 2016), a literatura infantil possibilita a criança experimentar relações com a realidade, as quais ela não pode perceber por conta própria (p. 30). Por isso, cabe ao leitor adulto a tarefa de apresentar ao leitor mirim o objeto livro. Seja em casa, com os familiares e na escola, com os seus pares e principalmente pela forma de atração utilizada pelos docentes. Para Lorenzet (2016) o mediador tem o papel de proporcionar ao pequeno leitor o acesso e o contato com diferentes formas, cores, materiais, texturas, no que podemos acrescentar as relações com o simbolismo, a sonoridade, palavra, visualidade e o corpo que permeiam por experiências sensoriais que são importantes para o desenvolvimento infantil. Além disso, há um outro importante papel do mediador em proporcionar às crianças situações de apreciação e conhecimento estético. O acesso à literatura na escola possibilitará, além de ler sozinho, ler com os outros. Desse modo, os espaços coletivos de leitura tornam-se forte ambientes de estímulo e socialização (p. 31).  Na medida em que  “a mediação do universo literário realiza-se de diferentes formas, respeitando a faixa etária do pequeno interlocutor em formação” (RAMOS, PINTO & GIOTTO, 2018).

 

A LINGUAGEM CORPORAL NA PERSPECTIVA LÚDICA DE INTERAÇÃO CORPO-OBJETO: O “LIVRO CLAP ...

 Proporcionar a leitura pelos ouvidos e a escrita pela boca.” (Percival Lomes Britto, 2005)

Segundo os estudos de Lorenzet (2016) a apreciação pela leitura deve se despertada nos primeiros anos de vida, de forma lúdica e espontânea, o que implica na presença de livros ao alcance dos pequenos. Para isso, o espaço literário precisa estar preparado para conter acervos que impliquem em tratar com encantamento e seriedade, ao que este merece (p. 30). Para ser exato, o livro é um objeto que tem vida. Quando a criança ouve ou lê as histórias, os contos ou as poesias, ela adentra no contexto da obra literária, isto porque segundo Martins e Venâncio (2005), toda ação motora da criança sobre o objeto poderá adquirir um significado subordinado ao simbolismo que a encaminha. O que a possibilita muitas vivências plenas de sua motricidade aliado ao jogo simbólico expressivo que colaboram com o desenvolvimento cognitivo e afetivo, permitindo assim, potencializar e sofisticar as representações que a criança faz sobre o mundo, pois estas já foram vividas, percebidas, sentidas e representadas corporalmente por ela. Dessa forma, a ação que ela executa é motivada, isto é, apresentará sempre uma intenção. A passagem da significação das sensações instintivas que transcende para a ação simbólica se dá no processo de construção de significados de processos de individuação do próprio corpo, como algo pessoal, criativo e interativo (Winnicott, 1975). Ao mesmo tempo, constrói uma história do brincar, acrescentando conteúdos ao seu acervo, o qual procede das experiências adquiridas a cada momento. Assim: “Desse modo, a criança vive ludicamente a sua capacidade de representação, corporificando-a, realizando mais do que simplesmente a evolução mental de algo que lhe é significativo naquele momento. O corpo não está mais simplesmente dotado de eficácia, ele está simbolicamente no mundo como unidade fundamental original.” (MARTINS & VENÂNCIO, 2005, p. 107).

Entende-se que o livro também pode ser visto como brinquedo, pois já desde o seu manuseio até a própria leitura, são ações que proporcionam uma vivência lúdica. Então, quando a criança estiver diante de um objeto (livro), ela agirá sobre este, vinculadas às suas ações motoras e sensações, vivências e transformações. Por isso, a principal propriedade que este material (obra literária) deve possuir é a de provocar a curiosidade da criança de forma a incitá-la à ação. Portanto, formas originais, cores, tamanho, funcionalidade favorecem ao movimento contínuo e variado da criança, que pode também ser supridas pela imaginação fluida da criança que ao manipular tal objeto, esta deverá ser influenciada e favorecida em sua linguagem corporal contribuindo em seu processo de individuação e socialização. As possibilidades oferecidas pela materialidade do livro infantil o distinguem inteiramente de outras formas de leitura, como, por exemplo, o livro digital. A potencialidade do livro produzido no suporte impresso situa-se no convite feito à criança para a sua decifração material, e no quanto o próprio livro se encontra impregnado de mensagens simbólicas. Exploração, tentativa, fracasso e êxito seriam porventura, a forma, a visualidade e o conteúdo do livro infantil, que transmitirão a compreensão de mundo. O livro infantil utiliza a seu favor toda a força da própria forma, o que poderia gerar uma abordagem sobre as mãos ao manipular. Assim como, as ilustrações podem ser apreciadas pela visão. [...] a criança diante do livro observa, se concentra, escolhe, experimenta, troca um livro por outro de materialidade diferente (de pano, emborrachado, cartonado, com luzes e sons, aromas, tridimensionais em pop-ups, carregados de rimas, onomatopeias e alterações, dentre outros estímulos sensoriais), interage com outras crianças à sua volta, com o educador, tenta resolver dúvidas que são geradas pela atividade prática com o livro como objeto (SOUZA, GIROTTO, 2014, p. 4).

Vygotsky (2001, 2009) nos permite afirmar que, quanto maior forem as experiências vividas pelas crianças, mais ampliadas serão suas potencialidades criadoras. Nesse sentido, o livro pode se tornar um brinquedo capaz de desenvolver, além dos sentidos, também a inteligência, a criatividade, a afetividade e o senso crítico da criança, desde que ela possa estar ativamente inserida em práticas sociais de narratividade, em que a imaginação e a atividade criadora possam ser ativadas e estimuladas. E já que o livro pode ser considerado um brinquedo, em analogia, podemos afirmar que também será uma forma importante e criativa da criança conhecer a si próprio, a seu corpo e compreender o mundo a sua volta. Esse corpo que é descrito no livro dirigido ao corpo. Ao mesmo tempo que o corpo é o que interage com o livro. Um mesmo livro pode ser contado ou narrado de modos distintos, pois depende de quem conta e das suas intenções e de quem será o leitor ou ouvinte. Assim como o seu repertório. 


Livro CLAP de Madalena Matoso (Editora Tangerina, Reedição Companhia das Letrinhas)

A propostas de atividades com leitura literária a ser sugerido é que as crianças podem representar, dramatizar e “ler” um livro de imagem ou ilustrado. A obra literária de Madalena Matoso chamado “Livro Clap” além de possuir ilustrações com traços modernos e coloridos, pode oferecer uma interação sonorizada que convida aos seus leitores a imitarem ou reproduzirem sons ou ruídos em formas de onomatopéias presentes, como por exemplo: bater palmas (Clap-clap!) ou rebatidas de porta (Toc-toc!). O que permite viabilizar uma interação com o texto literário infantil intermediando a vivência corporal através do lúdico, explorando a linguagem simbólica, a sonoridade e as relações entre a palavra, a visualidade e o corpo. atribuindo assim, significados e familiarização com representações de mundo.

 

PARA (NÃO) FINALIZAR...

A intenção deste artigo foi demonstrar a relação entre corporeidade e obras literárias infantis. Existem diversas formas de viabilizar obras de interação com textos literários infantil, intermediando, explorando a linguagem simbólica, da sonoridade, da visualidade, das relações com as palavras, as diversas formas de manipulação da materialidade que estão contidas e a relação direta com o corpo. De modo a contribuir para a atribuição de significados, primeiramente em apreciação na mais tenra idade, o que gerará uma futura familiarização com as outras representações de mundo que são propostas pelas obras literárias.

REFERÊNCIAS:

GIRARDI, Maria José. “Brincar de viver o corpo”. In: PICCOLO, Vilma L. Nista. (Org.) Educação Física ESCOLAR: Ser... ou não ter? Campinas, SP: Editora Unicamp, 1995.

GRAZIOLI, Fabiano Tadeu; DEBUS, Eliane Santana Dias. A leitura literária na educação infantil: espaços, tempos e acervos. Textura, Canoas, v. 19 n.39, p. 134-152, jan./abr. 2017.

JUNQUEIRA, Renata de Souza. Literatura infantil e primeira infância: políticas e práticas de leitura. Fronteiraz, São Paulo, nº 17, p. 43-59, dezembro 2016.

JUNQUEIRA, Renata Souza; MOTOYAMA, Juliane F. M. Bebeteca: espaço e ações para formar o leitor. Brazilian Journal of Information Studies: Research Trends. 10:3 (2016) 25-31. ISSN 1981-1640.

JUNQUEIRA, Renata Souza; ROSA, Cristina Maria. Alfabetização literária: os bebês e seus modos de ler. Anais do XII Jogo do Livro e II Seminário Latino-Americano: Palavras em Deriva, Belo Horizonte, 2018.

LORENZET, Fabiana L. Leitura literária da narrativa visual na educação infantil. Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação em Educação. UCS. 2016.

MACIEL, Rochele R. Andreazza. “Interfaces da linguagem”. In: MACIEL, Rochele R. A. Experiência Pedagógica pela Linguagem Poética e Corporal. Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Caxias do Sul, 2011.

MATOSO, Madalena. LIVRO CLAP. Companhia das Letrinhas. 2014.

MARTINS, Ida Carneiro e VENÂNCIO, Silvana. “Salvando a Rapunzel (O Jogo Simbólico na Escola)”. In; VENÂNCIO, S. & FREIRE, João B. (Orgs.). O Jogo dentro e fora da escola. Campinas, SP: Autores Associados (Faculdade de Educação Física da Unicamp), 2005 – Coleção Educação Física e Esporte. Estudo Cinco, p. 97-114.

RAMOS, Flávia Brocchetto; PINTO, Marcela Lais Allgayer; GIROTTO, Cyntia Graziella Guizelim Simões. Interação de bebês com livro literário. Poiésis, Tubarão, v.12, n. Especial, p. 106-117, Jun/Dez 2018.

REYES, Y. A Casa Imaginária (Leitura e literatura na primeira infância). São Paulo: Editora Global. 2010.

WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Ed. Imago, 1975.

VYGOTISKY, L. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes. (2001).

*Trabalho apresentado como requisito de avaliação na Disciplina: Literatura e Corporeidade na Educação Infantil na Universidade Caxias do Sul no Curso de Especialização em Literatura Infantil e Juvenil: Da Composição à Mediação.