terça-feira, 16 de junho de 2015

Psicomotricidade: O Psico (emoção/cognição) motor (corpo) em sua dimensão multiexperiencial (Do corpo vivido ao representado)


Psicomotricidade: O Psico (emoção/cognição) motor (corpo) em sua dimensão multiexperiencial (Do corpo vivido ao representado)


 - (A Psicomotricidade ajudando a entender a mente e o corpo)*


Por Jacira C. da Costa

Professora de Educação Física (UFRJ), Psicomotricista (Sócio-Titular pela ABP) , Pós-Graduada em Psicomotricidade (IBMR) e em Educação Especial e Incluisiva (IAVM).


Foto fonte: Mundo Brink Brinquedos Equipamentos e Informática Educacional (Fanpage – Domínio público)


          Muitas vezes quando comento com algumas pessoas sobre a minha profissão eu digo que sou Professora de Educação Física e Psicomotricista, o que geralmente as pessoas perguntam: - “Psico o quê?”; E eu respondo: - “PSICO-MOTRI-CIS-TA.”. Isso nos leva a constatar que as pessoas desconhecem qual é o verdadeiro sentido e a principal função desta profissão. O que também nos inspira a buscar cada vez mais respostas em termos científicos e metodológicos para informar, orientar e esclarecer pessoas leigas no assunto e áreas afins.

         Ambas as profissões (Educação Física e Psicomotricidade) procuram trabalhar o corpo e a mente. A filosofia da Educação Física vem do latim: “Mens sana in corpore sano” (Mente sã em um corpo são), cuja intenção na época era lembrar aos cidadãos romanos que deveriam buscar o desenvolvimento da saúde física e espiritual. Atualmente, a consideração do significado da frase está no sentido da busca de um equilíbrio saudável no estilo de vida entre mente e corpo. A filosofia da Psicomotricidade, por sua vez, vem de uma fundamentação holística (Emocional, cognitivo e motor), mas historicamente o uso do termo foi utilizado, primeiramente, por Dupré quem estudou as conexões entre movimento e pensamento, e a partir disso, várias linhas acabaram contribuindo e se aglutinado à Psicomotricidade, dentre elas a própria educação física, a neuropsicologia, a psicanálise, a psicologia, o que a torna verdadeiramente complexa. E muitas das vezes, servindo como principal ferramenta de muitos trabalhos terapêuticos na área da saúde/clínica (Fonoaudiologia, Fisioterapia, Musicoterapia, etc).

          Segundo Vítor da Fonseca (2004), a Psicomotricidade “subtende as relações entre a organização neurocerebral, a organização cognitiva e a organização expressiva da ação”, ou seja, compreende a ação (praxia, motricidade ou movimento intencional) como execução a partir da planificação do pensamento. Deste modo, a psicomotricidade inter-relaciona o componente motor ao componente cognitivo-emocional.

          A sua forma de intervenção poderá ser profilática, preventiva, educativa, reeducativa ou terapêutica. No caso da CreSer, a intervenção será plenamente terapêutica.

         Um dos critérios da Psicomotricidade é observação e a identificação das síndromes ou transtornos psicomotores o qual engloba diversos subtipos de desorganização do movimento, como por exemplo, o que pode ser conhecida como dispraxia, definida por Ajuriaguerra (1970; In: Fonseca, 2004) como “perturbação global da personalidade, da qual podem emergir problemas instrumentais ligados à afetividade, na medida em que possuem um caráter expressivo, independente de não surgirem de neuropatias ou miopatias”. A dispraxia estaria ligada a um problema na planificação, regulação e controle motor devido a uma disfunção na área cortical do cérebro. Diferentemente da apraxia, que está ligada à incapacidade de execução e de regulação dos movimentos voluntários e intencionais devido a uma lesão cerebral óbvia.

         O objetivo da Psicomotricidade é promover e melhorar a organização neuro-psico-motora do indivíduo levando-o à plena consciência do eu-corporal (Consciência de si) no espaço. Ela deve intervir a partir da mediatização das funções psíquicas (emocionais e cognitivas) utilizando-se de diversas situações-problema e contextos possíveis buscando assim, uma significativa modificação psicomotora gerando uma sincronia entre os processos emocionais, cognitivos e motor.  O Psicomotricista, durante esta mediação, deverá adotar um processo relacional contínuo com o seu paciente, sendo ele um bebê, uma criança, um jovem ou um adulto e um idoso.

         Segundo Ajuriaguerra (1980), o desenvolvimento psicomotor estaria associado à evolução da criança,  e ao mesmo tempo, pode ser considerado como sinônimo de maior conscientização, conhecimento e noção do seu corpo (Imagem e esquema) na medida que passaria a incorporar e a inter-relacionar cada vez mais o seu mundo interior com o mundo exterior (com outro e com o ambiente/objetos), o que consequentemente gera a organização plena de sua personalidade (integrada e construída).

          O ser humano é o seu corpo. A criança é o seu corpo. Seja esse mesmo corpo nas fases do agido, atuante e transformador, conforme descrito por Ajuriaguerra (1972, 1974 e 1976, In Fonseca, 2004). Por isso, ela precisa vivenciar experiências concretas que envolvam as sensações, as percepções, as imagens, as simbolizações. E tudo isso poderá ser vivido através da prática corporal do brincar instrumentalizado pela via psicomotora onde ela poderá passar por diversas experiências com o seu corpo através dos odores, do toque, sabores, etc., E esse corpo aprenderá através do corpo vivido, passando pelo percebido, conhecido e finalmente, pelo representado (Le Bouch,  1982 1987). Segue-se como exemplo de indivíduos que possuem uma harmonia corporal  às expressões sentimentais: bailarinos, atletas, artistas plásticos, arquitetos, professores, musicistas, etc.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:                                                

 
- AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiquiatria Infantil. Ed. Masson do Brasil. (1980).

- FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade (Perspectivas multidisciplinares). Porto Alegre: Artmed (2004).

- LE BOULCH. Jean. O Desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas (1982).

- LE BOULCH. Jean. Educação Psicomotora: psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas (1987).


*Este texto também se encontra na fanpage da CreSer: https://www.facebook.com/cresercidi