quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Hervé Tullet: O que a sua arte Propõe? (Parte II)

 Hervé Tullet: O que a sua arte propõe? 

(Parte II)

(Imagem de Arquivo Pessoal*)

Os livros de Hervé Tullet são livros brinquedo e ao mesmo tempo que expressa a sua arte. Hervé Tullet é uma mistura de artista visual e brinquedista da arte. Suas obras se multiplicaram em muitos países através de seus livros objeto e artístico.  A partir de alguns estudos que realizei sobre arte-educação podemos apontar algumas relações dialéticas.

O diálogo entre os elementos através de suas obras:

O diálogo entre os elementos tais como as cores, as formas, as texturas criam o movimento do olhar artístico, o tempo de observação e o manipular através do toque com as mãos. Se alimenta dos opostos. Há a presença dos acasos e erros, pois não existe "erro" na arte, nas sim a sua releitura sobre esse. A presença da livre expressão se aproxima das atividades criativas.

Nos seus livros estão disponíveis as dobras, as diferentes texturas, os recortes, as tiras, as cores (Principalmente as cores azul,  amarelo e vermelho), as formas que podem ser apreciados de diferentes maneiras. 

OS LIVROS ARTE e os JOGOS "DESENHE"  e "The Giant Game of Sculpture":

A coleção de livros arte exploram o sensorial e a percepção. As cores básicas azul, amarelo e vermelho são bastante utilizadas e estão presentes nas obras de Hervé Tullet. Os diferentes tipos formas, texturas e estruturas também podem ser observados. A coletânea composta de "Fleurs!", "Formes!", "Danse!", "Regarde!" exploram todas essas sensações e percepções visuais e táteis-cinestésicas. Sejam com espelhos,  diferentes tipos de papéis (Com transparência,  por exemplo),  recortes. Não existe uma regra específica de onde começar ou terminar a exploração do livro, por existir e propor diversas camadas do brincar com esse livro-arte.

Todos eles estão numa caixa. Quando retirados, podemos perceber que suas estruturas são sanfonadas, que quando esticados formam um belo visual.

(Imagem de Arquivo Pessoal *)

No livro-jogo ou apenas jogo do "Dessine"(Desenhe), vem numa caixa com um livro de instruções que descreve dois tipos de regras (ou você poderá inventar uma terceira regra), um dado colorido e vários cartões (66 ao todo) com palavras-chave (Por exemplo, flores) que instruem a desenhar flores ou com a palavra "no alto" (para desenhar bolas pequenas no alto da folha). Outros cartões com figuras destacáveis (Ao todo são 6). 


              (Imagens de Arquivo Pessoal *)

O livo-Arte "The Giant Game of Sculpture" é GIGANTESSSCOOO!!! Ele vem com uma jaqueta. O livro possui a forma sanfonada com diversos recortes a serem destacáveis podendo ser utilizados para montar diferentes estruturas. O livro é muito convidativo (Confesso que ainda não destaquei as figuras...Rsrsrs...)

              (Imagem de Arquivo Pessoal *)

A Colaboração da Arte-Educação para a Literatura e deste para o público infantil:

- Desenvolvimento da autonomia;

- Possuir sua própria linguagem de forma independente;

- Desenvolvimento da autoestima;

- Ao mesmo tempo que está associada à fantasia.

Associação da Arte com a Educação e com a Literatura Infantil:

A Associação entre a arte e a educação está na dinâmica que ela proporciona a partir do movimento expressivo por ações de ideias, pensamentos e sentimentos. E a ARTE possui uma linguagem que está diretamente relacionada à poética.

Uma criança quando se descobre e se percebe como autora de suas próprias produções, fortalece a sua autoestima. E Hervé Tullet permeia muito bem o processo da Arte-Educação com a Literatura, pela sua proximidade com a criança. 

"O NOSSO CORPO É SUPORTE PARA A ARTE ATRAVÉS DA AÇÃO CORPORAL."

Então, ARTEIRAR É BRINCAR COM (Possíveis diálogos.)...

- Brinca com as cores básicas: Azul, Amarelo e Vermelho

- Brinca com os opostos (Interno/dentro e externo/fora)

"A ARTE PRECISA DESSA CIRCULAÇÃO ENTRE OS OPOSTOS DE FORMA CONSTANTE"

- Brinca com o vazio (Buracos): Preencher ou alimentar

- Brinca com os círculos (Lembra movimentos circulares, Por exemplo: as mandalas)

"RELAÇÃO COM A NATUREZA: AS FLORES"

- Brinca com as formas e contraformas (Simétricas e/ou Assimétricas)

- Brinca com as texturas: Materiais diferenciados

- Brinca com a figura-fundo

- Brinca com as sombras (Silhueta)

- Brinca com o corpo (Desenhar partes do corpo sobre o papel, por exempolo)

- Brinca com o sensorial (Atividade: Usando tintas)

- Brinca com a identidade (Uso de espelhos)

Na arte-educação:

"A ARTE PRECISA SER EXPERIMENTADA, SENTIDA E CONTEMPLADA" O CONTEMPLADOR DA ARTE QUER VER O AUTOR DA ARTE."

*(Na arte-terapia precisa ser entendida)

As obras de Hervé Tullet através dos livro-arte, permite que o leitor se identifique e se aproprie como se fosse o autor. Se aproprie, contemple, se relacione.

- Brinca com as fases do grafismo.

BRINCANDO COM AS FASES DO GRAFISMO:

Se notarmos as obras através dos livros de Hervé Tullet notamos que ele "brinca" com as fases do grafismo infantil criando uma relação de identidade entre suas obras e seus leitores. Então, vamos as fases do grafismo relacionado (cronologicamente e motoramente) à idade:

a) Rabiscação (riscos), aproximadamente 1 ano

(Imagem de Arquivo Pessoal*)

b) Circulares + Pontos - Garatujas: aproximadamente aos 2 anos

(Imagem de Arquivo Pessoal*)

c) Circular (Riscos + Pontos sobrepostos): Início da percepção do redondo, aproximandamente aos 3 anos

(Imagem de Arquivo Pessoal*)

d) Figuras associadas (humanas): Surge os personagens (Exemplo: Bichos), aproximadamente aos 4 anos

                 (Imagem de Arquivo Pessoal*)

e) Figuras agrupadas: Círculos/curvas e traços em curvas (Por exemplo: Casa, árvore, flor). Geralmente coloca elementos no mesmo espaço. Surge outros personagens como por exemplo: Pai/Mãe. Aproximadamente aos 4 ou 5 anos.

                 (Imagem de Arquivo Pessoal*)

f) Figuras com ângulos e sentidos: Apresentam noção de em cima e embaixo, noção de grande e pequeno, Possui maior capacidade de alfabetizar. Aproximadamente aos 6 ou 7 anos.

                 (Imagem de Arquivo Pessoal*)

g) Ângulos mais desenvolvidos e variados. Seus desenhos são mais detalhados.  Aproximadamente aos maiores que 7 anos.

             (Imagem de Arquivo Pessoal*)

h) Interesse por estruturas e/ou esculturas. Aproximadamente aos 8 ou 9 até 10 anos.

               (Imagem de Domínio Público)

i) Interesse por figuras exóticas. Aproximadamente aos 11 anos.

                (Imagem de Domínio Público )

No artigo anterior "A Arte de Brincar com Hervé Tullet" (Parte 1) eu fiz alguns aporntamentos sobre as obras do artista no qual se percebe algumas relações entre arte-literatura-educação.

Até breve.

Carturxa Literária (Jacira)

*Todas as imagens são de arquivo pessoal.  Para uso em outras plataformas deverá pedir autorização à autora.



A Arte de Brincar com Hervé Tullet (Parte 1)

 A Arte de Brincar com Hervé Tullet: A Colaboração dos Livros Arte-Brinquedo para o desenvolvimento Infantil 

(Parte 1)


HERVÉ TULLET: UM ILUSTRADOR BRINCANTE

Hervé Tullet é um artista francês, performer, ilustrador e autor de literatura infantil.
Depois de estudar ilustração e comunicação visual, trabalhou por cerca de dez anos em publicidade .
Vencedor de inúmeros prémios, o artista aborda arte, ilustração e infância de um modo único e peculiar.
No início dos anos 1990, Hervé começou a trabalhar como ilustrador para uma imprensa. 
Em 1994, seu primeiro livro infantil, "Comment papa a rencontré maman", foi publicado por Le Seuil . Em seguida, ele recebeu o Prêmio de Não-Ficção na Feira do Livro Infantil de Bolonha em 1998 por "Faut pas confondre" .
Tullet escreveu mais de 80 livros traduzidos em mais de 30 idiomas. Seus livros preferem seguir um caminho bem peculiar ao de uma narrativa, apresentando características bem interativas ao leitor.
Desde 2015, ele vive em Nova York nos Estados Unidos onde criou várias exposições no Invisible Dog Art Center e no Children's Museum of Pittsburgh .
Em 2018, Tullet também lançou The Ideal Exhibition, um projeto colaborativo e multifacetado baseado em sua arte, estética e na filosofia. O projeto consiste em oficinas de vídeo na forma de uma websérie e um dispositivo de compartilhamento na forma de uma exposição virtual coletiva.
Sobre o que disse Hervé Tullet: 

 “Quando estou trabalhando com crianças, não tento descobrir quem elas são. Eu tento não pensar se é uma criança ou um adulto que estou trabalhando. Gosto de compartilhar uma experiência artística, não de ensinar as pessoas. Sou mais um artista do que um educador, embora perceba que meus livros são usados frequentemente como livros educativos.

Hervé Tullet (Fonte da Imagem: Internet)


SOBRE AS OBRAS:

Três de suas obras publicadas no Brasil


APERTE AQUI

(Imagem de Arquivo Pessoal *)

Seu livro "Press Here" ("Aperte Aqui" pela Editora Ática) foi lançado em 2010 nos E.U.A. 
E, originalmente publicado na França em 2010 como Un livre ) é o maior sucesso de Hervé Tullet.
Este "livro interativo" publicado nos Estados Unidos pela Handprint Books/ Chronicle Books vendeu mais de 2 milhões de cópias em todo o mundo e foi traduzido para mais de 35 idiomas. Permaneceu na lista de Best Sellers do The New York Times na categoria Livros Ilustrados para Crianças por mais de 4 anos.
Uma das características deste artefato é que ele possui todas as páginas com as mesmas cores básicas (Azul, Amarelo e Vermelho). A proposta do autor é que o leitor siga as instruções que estão contidas em cada uma das páginas para dar a impressão de que ele está realmente conversando com o leitor e, ao mesmo tempo, que dá a entender que o livro pode ser "manipulado" de diversas maneiras como se estivesse num jogo em um Tablet ou num smartphone em formato de touch-screen.
Neste artefato, Hervé Tullet mistura de forma grandiosa a Arte e a Literatura Infantil. Além disso, as crianças amam o seu trabalho. E é isso que importa! Acertar e entender como funciona o sentimento visual e a percepção infantil.

OUTROS LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL:

No Brasil,  ele possui alguns livros publicados, dentre eles: "Tem um buraco no meio do Livro"(CosacNaify) e "Sem Título" (Companhia das Letrinhas)

Sua obra é cheia de surpresas Lúdicas, Interativas e promove a arte.

SEM TÍTULO:

(Imagem de Arquivo Pessoal *)

Hervé Tullet adora compartil⁹har a sua experiência artística junto aos seus leitores. Ele se considera mais artista do que um educador. Muito embora seja conhecido na França como o "Príncipe da Pré-Escola" onde seus livros são usados para fins educativos e pedagógicos. 

Quando ele elaborou a ilustração do livro "Sem Título" (Publicado pela Companhia das Letrinhas), se utilizou de traços infantis na sua elaboração. O que torna as crianças sua fonte de grande inspiração para compor suas obras literárias diretamente para o público infantil,  assim como as crianças "grandes"...Rsrs...

No livro "Sem Título" os personagens "conversam" com o leitor de forma lúdica e irreverente! Numa parte, as personahens convidam o leitor à entrar no atelier do autor para saber como ele está elaborando ou elabora as ideias de produção do livro.


TEM UM BURACO NO MEIO DO LIVRO
(The Book With a Hole, Editora Tate)

(Imagem de Arquivo Pessoal *)

Tem um buraco no meio do livro! Um buraco no meio do livroooo?!?

Está obra de Hervé Tullet foi publicada aqui no Brasil pela Cosac Naify. Ele encontra-se esgotado. Uma pena!

Este artefato faz um convite ao leitor! Não somente para ler, mas como também a brincar. Além disso, subverte a materialidade da estrutura tradicional em seu formato quadrado ao ter um "buraco no meio do livro" que também compõe e faz parte da narrativa lúdica. E cada página faz com que a imaginação do leitor flua para além do livro pois se associa à corporeidade brincante.
É somente um livro divertido? Muito mais  que isso!
O autor também propõe aos leitores de todas as idades um co-autoria em suas obras. Em "Tem um buraco no meio do livro" a interessante intervenção através da mediação seria um incentivo à leitura e a participação de intervenção sobre o livro.

Passem através das fotos seguintes e vocês terão ideia de algumas das muitas possibilidades de interação com esta obra! Você pode colorir ou pintar. Você pode jogar, fazer parte da narrativa, dentre outras ideias que a criatividade inspirar.


        
(Imagem de Arquivo Pessoal *)

OUTRAS OBRAS - SÉRIE JOGOS
(Eu chamaria de "O MUNDO DOS JOGOS")

(Imagem de Arquivo Pessoal *)

●THE BALL GAME de Hervé Tullet (Editora Phaidon)
País: FRANÇA



(Imagem de Arquivo Pessoal *)

Hervé Tullet, nascido na Normandia, trabalhou como Diretor de Artes por 10 anos até lançar o seu primeiro livro infantojuvenil. Vencedor de inúmeros prémios, Hervé continua a abordar sobre arte, educação e infância de um modo único e peculiar. Os livros anteriores do autor publicados pela série de livros e coletâneas lúdicas, faz com que seus jovens leitores façam mais do que apenas ler, mas pede-lhes para empurrar, esfregar, lançar bolas por entre os vazados e sacudir seu livro como se estivessem jogando.

"Este tipo especial de livro contém mecanismos que viabilizam o jogo, ao mesmo tempo, que valorizam o caráter experimental das linguagens.
(Romani, 2011).

The Ball Game é um artefato que compõe essa coleção de livros com propostas lúdicas, que ao mesmo tempo que é um livro, é um brinquedo. Ele te apresenta algumas das modalidades esportivas do mundo dos jogos, tais como: basquete, futebol, golfe... E, ele propõe que façamos uma bola de papel que poderá ser utilizado em toda a parte do livro.

"Os jogos são classificados em cinestésico, de adivinhação, de imagens e com recortes, podem aparecer sozinhos ou em conjunto no livro, pois não existe uma regra para sua utilização, cada projeto estabelece sua proposta lúdica.".(Romani, 2011)

O formato do livro vem acompanhado de uma luva ou tipo de cinta que protege sua estrutura sanfonada. Por dentro, cada "setor" do livro te convida a realizar um gesto, seja, acertar na cesta, no gol e até mesmo jogar golfe. O livro garante muitas surpresas.
Esta obra, assim como a obra "Juego Del Campo", fazem parte da coleção dos "Livros dos Jogos".

● JUEGO DEL CAMPO ("Campo de Bincadeiras" ou "Jogos de Campo")

Sobre o livro-objeto:

É um livro-imagem e ao mesmo tempo brinquedo/interativo. Tanto abrindo pela capa ou quanto pela contra-capa, a história poderá ser contada, inventada, recontada em um ciclo interminável.
Com imagens em recortes, esta obra é uma arte literária visual que oferece uma interatividade super bacana!
Uma pena ainda não ter uma versão editada em português (brasileiro) porque é um livro bem legal para os bebês e o grupo de iniciantes da leitura que estão com a imaginação fluindo. 

Existe um vídeo no YouTube que apresenta além deste, outros livros da coleção. Se chama Hervé Tullet: The Game Series disponível em https://youtu.be/D4fNTI1-H2o

(1006) Hervé Tullet: The Games Series - YouTube

OS OUTROS LIVROS-JOGO:

📚 The Game of Mirrors *

📚 The Game of Pattens* 

📚 The Game of Lines *

📚 The Game of Tops and Tails*

📚 Juego de Las Combinaciones*

*Editora Phaidon

● PETIT OU GRAND? (Editora Bayard Jeunesse):

Trata-se de um conto cumulativo cheio de onomatopéias. E as imagens vão crescendo conforme vira-se as páginas do livro.


(Imagem de Arquivo Pessoal *)

As Possíveis Interações entre A Literatura,  a Arte e o Brincar

(Imagem de Arquivo Pessoal *)

Podemos dizer que Hervé Tullet permeia muito bem o processo da Arte-Educação com a Literatura e a ludicidade, pela proximidade que suas obras têm com as crianças. Através da arte suas obras permitem que o leitor se identifique e se aproprie como se fosse o autor de "sua própria obra". Enfim, se apropriar, contemplar e se relacionar virando cada página e ressignificando cada gesto e reconhecer as diferentes linguagens. 

"INTERA-ARTIVIDADE" - O que a arte propõe?

(Imagem de Arquivo Pessoal *)

Ao falarmos sobre o diálogo entre os elementos: cores, formas, texturas percebemos a interação entre a arte-educação. As obras de Hervé Tullet apontam para a promoção da criatividade. 
Ao mesmo tempo, que o brincar com os livros são um convite ao leitor para movimentar o corpo (Lançar objetos, pintar, apertar,  girar, atravessar páginas, dentre outras Interações). 
As obras de Hervé Tullet servem como ótimas ferramentas de trabalho para diversas áreas,  como a Psicomotricidade. 
O livro "Tap-Tap-Tap" (Ainda não Publicado no Brasil) é um ótimo exemplo de interatividade livro-corpo, no qual a cada virada de página há uma sugestão de movimentos com o corpo, formando desenhos imaginarios no "ar". 


Um pequeno vídeo com imagens dos livros. 

NO YOUTUBE 

No meu perfil no YouTube "Jacira da Costa- Cartuxaliterária" abordo outros detalhes das obras deste artista e também realizo outros apontamentos.

Me segue lá!



(Continua no outro post - Parte 2)

*Todas as imagens são de arquivo pessoal.  Para uso em outras plataformas deverá pedir autorização à autora.



quarta-feira, 21 de junho de 2023

“A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA” – UMA ANÁLISE DO LIVRO-IMAGEM COMO OBJETO DE REFLEXÃO DE CONFIGURAÇÃO TRANSMÍDIA CULTURAL E ESTÉTICA

 A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA” 

(UMA ANÁLISE DO LIVRO-IMAGEM COMO OBJETO DE REFLEXÃO DE CONFIGURAÇÃO TRANSMÍDIA CULTURAL E ESTÉTICA)*

 

Jacira C. da Costa (UCS )¹

Flávia B. Ramos (UCS – Caxias do Sul)²


A LEITURA VISUAL OU DE IMAGENS

Em termos de ilustração ainda existe uma discussão a respeito à iniciação de leitura de imagens para crianças. Partindo deste prisma, devemos considerar que o olhar através dos sentidos da visão é um dos primeiros órgãos a se desenvolver antes da fala com o uso das palavras através dos primeiros balbucios. O olhar pode ser tátil.

A IMAGEM E A VISUALIDADE

Oliveira (2008), afirma que a verdadeira imagem narrativa para crianças deve ser aquela que surge pelo encantamento, harmoniza e respeita o incipiente cognitivo visual do leitor com os objetos do universo conhecido desde a mais tenra idade. O que poderíamos acrescentar que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes literárias. 

A MATERIALIDADE E A VISUALIDADE

O livro-imagemA Grande Viagem da Senhorita Prudência” foi selecionado para fins de análise e objeto de reflexão. Originário do francês, as ilustrações de Charlotte Gastaut (2011) apresentam como características as seguintes funções: expressiva, estética, narrativa, lúdica e metalinguística (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004)

Com a materialidade repleta de traços em cores vibrantes, texturas variadas, páginas com vazados e recortes que configuram uma estética de ilusão ótica em 3D, tais que prometem interações entre a obra literária e os leitores de todas as idades. 

Tendência: O que certamente teríamos muito mais leitores apreciadores das artes literárias compreendendo que a experiência da leitura não é somente cognitiva, como também pode e deve ser sensível aos olhos (RAMOS & NUNES, 2016). 

Alfabetização visual: A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens. 

Contudo, diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).

A Obra e a Autora:    A GRANDE VIAGEM DA SENHORITA PRUDÊNCIA:


      Editora Ática (Coleção Giramundo)

      Literatura Infantil Francesa

      Autoria e ilustrações de Charlotte Gastaut (2010)

      Prudência” (De origem francesa “Prudence”)

      É uma homenagem à filha da autora. 

    Por esta razão, a editora decidiu não traduzir para “Prudência” na inscrição que aparece na perna da boneca de brinquedo no quarto da menina da menina nas páginas 5, 45, 47, 49 e 50.


Projeto Gráfico e Materialidades da Obra

As ilustrações de Charlotte Gastaut são repletas de cores, traços e formas vibrantes, que prometem uma possível interação entre obra literária e o leitor de todas as idades.

Funções: expressiva, estética, narrativas; lúdicas e metalinguística- “A Odisseia de Ulisses e “Alice no País das Maravilhas” - (CAMARGO, Apud; RAMOS & PANOZZO, 2004)

O livro possui 52 páginas.

As páginas não são numeradas.

Formato: Retangular vertical

Dimensões: 25,5 cm x 33,5 cm.

Capa dura

Duas Texturas: Lombada em tecido aveludado em cores verde: tom sobre tom

Tipografia em cores da capa: douradas contrastantes a faixa rosa

Dois mundos: A GRANDE VIAGEM


Capa e Segunda Capa/Contra-Capa


ENREDO

A história inicia no quarto de Prudência. E quando a sua mãe a está chamando para sair. Porém, a menina precisa arrumar o quarto antes de sair. Sua mãe quer tudo organizado e aparenta estar com pressa.

E com isso começa uma profusão de imperativos: " Onde estão as meias? E os sapatos? Escove os dentes! Calce os sapatos! Comporte-se! Arrume seu quarto! Venha logo!".

Mas, enquanto ela fala do lado de fora do quarto com a filha, a menina aparenta não está nem um pouco preocupada. Ela quer mesmo é brincar.

Prudência então, inicia uma viagem por mundos fantásticos, com as mais incríveis criaturas




ILUSTRAÇÃO - CENÁRIOS EM CORES

 Diagramação: Não há enquadramento do cenário

Quase todos os cenários em páginas duplas;

CÓDIGOS IMAGÉTICOS: Variações entre claro (luz: céu e mar) e sombras (escuras: florestas densas e a noite), onde predominam o branco, azul e o verde em diversos tons;

Contrastes em Projeções: Figura-fundo (Personagens e cenas).

Oliveira (2008) nos aponta que quando se admira uma ilustração, a cor não deve ser analisada a partir de seu próprio significado isolado, pois não sustentaria um critério de análise. 

A TIPOGRAFIA faz parte da narrativa como imagem.



A presença tipográfica surge como imagem narrativa como podemos ver nesta página dupla.

TEXTURAS:

Páginas com vazados, recortes e diferentes texturas em papel.


Páginas com vazados

SONORIDADE AUSCULTATÓRIA (Papel): em um aspecto de gênero de ressonância visual (Oliveira, 2008)

Páginas com recortes



IMAGINÁRIO NA MENTE E A TECNOLOGIA NA MÍDIA

O livro pode conter cenas inimagináveis que nos convidam para serem descobertos no prazer de a rever por diversas vezes. “Seriam como portas secretas para que as crianças possam transpor e realizar plenamente, sua própria imaginação, criação e fantasia” (Oliveira, 2008, p. 50).

Suas camadas de criação artísticas são reveladoras.



 Espaços Planimétricos

Conforme explicado por Oliveira (2008) podemos dizer que esta obra se apresenta como se fosse com espaços contínuos e atmosféricos conhecidos como espaços “planimétricos”.

É como se a história pudesse ser contada à maneira de um livro em pop up.

Aspecto de dimensão em 3D.

 



Segundo Oliveira (2008), 

A cultura narrativa é sempre uma compreensão dos significados antecedentes e consequentes da imagem(...).  São muitos olhares que podemos ter diante da ilustração” 

(p. 32)

Ramos e Paiva (2014) apontam que: 

Na prática pedagógica, como aliado ao letramento literário, o livro infantil pode incentivar o gosto por bens culturais.”

 

Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).


NARRATIVA TRANSMÍDIA:


Esta animação de "A grande viagem da senhorita Prudência" (Editora Ática) foi produzida por Elina Fransson, Sara Kenneryd, Viktoria Anselm e Sara Engberg, alunos da Campus i12, universidade de Eksjö, na Suécia.


Disponível em https://youtu.be/52E2zTfaGM0


NO REINO DE PRUDÊNCIA:

O que Monteiro Lobato contou em palavras sobre o “Reino das Águas Claras”, Charlotte Gastaut nos contou parafraseando-o em imagens.

 

CONSIDERAÇÕES

A apreciação através da alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas a leitura da imagem, como também a valorização e a importância da beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, do suporte, da diagramação das páginas e da relação estética entre as camadas dentre as imagens.

A diagramação oferece uma leitura imagética global, aleatória e simultânea por sua percepção visual

Em síntese, o livro em questão realça a magia e a descoberta em cada camada da obra, de modo a inserir-se no cotidiano das crianças. O que ampliaria o seu repertório imagético e cultural.

Diante das variações culturais, alteraram-se o modo de utilizar as ferramentas a partir das novas culturas tecnológicas e narrativas de comunicação a fim de potencializar a apreciação estética da história, em que o fomento (MARTINS & RAMOS, 2014) da transmídia ofereceria diferentes suportes literários interativos, desde o papel até a tela (RYAN, 2013; LIMA & LESSA, 2014).

 

REFERÊNCIAS:

GASTAUT, Charlotte. “A Grande Viagem da Senhorita Prudência.”. Coleção Giramundo.  Editora Ática. 2011.

OLIVEIRA, Rui de. Pelos jardins de Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

RAMOS, Flávia B; NUNES, Marília Forgearini. “Ler imagem também é ler literatura”, INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 – p. Disponível em https://www.unigran.br/dourados/interletras/ed_anteriores/n23/conteudo/artigos/13.pdf. Acesso em 12 de março de 2021.

RAMOS, Flávia B; PAIVA, Ana Paula. Dimensão não verbal no livro literário para crianças. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 14 - n. 3 - set-dez 2014. Disponível em https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/5919/3671 

RAMOS, Flávia B.; PANOZZO, Neiva S. P. Entre a ilustração e a palavra: buscando pontos de ancoragem. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid, nº 26, 2004. Disponível em  https://webs.ucm.es/info/especulo/numero26/ima_infa.html 

 

*Trabalho apresentado em forma digital para a II Jornada de Grupo de Pesquisa: Livros para infâncias no século XXI: materialidades e autorias