domingo, 16 de maio de 2021

LÚCIA HIRATSUKA: A LITERATURA EM MEMÓRIA DA INFÂNCIA

Lúcia Hiratsuka: A Literatura em Memória da Infância

LÚCIA HIRATSUKA -Da série Mulhes Mithoí, neste período em que se tem abordado sobre o feminino estarei publicando de março a maio as principais obras de algumas de nossas autoras da Literatura Infantojuvenil, de poesias, contos, ilustrados e histórias. (A terceira da série foi sobre Eva Furnari. Te convido a acessar o post anterior).

 

Apresentação:

A primeira coisa que me chama a atenção e faço quando pego em um livro é que ao abri-lo, me permito sentir o cheiro que ele exala (RAMOS E PAIVA, 2014). As cores e a textura que ele apresenta. Amo o cheiro de um livro. E por conta disso gostaria de começar apontando a importância da materialidade de um exemplar. O tocar, o sentir, o manipular, etc. Ao analisar algumas obras em PDF sinto a falta disto. Como adulta, me coloco no lugar de uma criança em seu estágio inicial de formação leitora que necessitam de ações concretas sobre o objeto. Ações simples como: folhear, abrir, fechar, rodar, levantar, sentir, ouvir, cheirar, tocar nas obras (RAMOS & PAIVA, 2014). O que não nos impede de contemplar cada uma delas. 

 

A AUTORA E SUA OBRA:

Lúcia Hiratsuka é artista plástica, autora e ilustradora de diversas obras da literatura para crianças. Além de ilustradora de livros didáticos. Sua carreira na área de literatura começou quando ela recebeu uma bolsa de estudos para estudar na Universidade de Educação de Fukuoka no Japão estudando técnicas de desenho e pintura oriental. Em seguida ela escolheu como tema de pesquisa o “ehon”, ou seja, o livro ilustrado. Lá fez uma exposição de desenhos com cenas de feira, festa junina, personagens do folclore e paisagens brasileiras, o que obteve bastante sucesso. Retornou depois de um ano e começou a recontar e ilustrar os contos e as lendas japonesas que ouvia de seus pais e avós (Cantigas japonesas) quando era criança. Quando ela era criança, seu pai assinava e a presenteava com revistas que vinham do Japão com contos, biografias, mangás, clássicos adaptados. E sua mãe lia muito em casa. Além de sua vivência no sítio e na escola com outras crianças. A descoberta através do resgate de suas memórias de infância foram uma das principais inspirações que a impulsionou no dia a dia na busca das coisas mais simples, e principalmente através da sua relação com a natureza. E em meio a esse ambiente rico foi um incentivo para a fluir na imaginação.

Sua obra também buscou inspiração nas composições japonesas e estudou a técnica do “sumie”, o qual começou a introduzir em seus trabalhos de ilustração. Em tempo, a palavra sumie significa “pintura a tinta” em português e consiste numa técnica de pintura em preto-e-branco originada em mosteiros budistas da China durante a dinastia Sung (960-1274). Adotando esses princípios, o sumiê exerce uma dicotomia interessante. Preto-e-branco, concreto e abstrato, água e terra, controle e espontaneidade são manifestações presentes nessa arte, que, a partir do século XV, passou a retratar também pássaros, flores e paisagens.

 


A autora já publicou mais de 25 livros e alguns já receberam reconhecimento de grande importância dentro da Literatura, tais como o Selo Literário da Biblioteca Nacional e o Selo Cátedra da Unesco de Leitura. Em 1995, seus livros Hatikazuki Hime, Momotaro e Tanabata conquistaram o prêmio concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 2005, Os Contos da montanha conquistou o selo da FNLIJ de Altamente Recomendável e em 2006, foi incluído no Catálogo de Bolonha. Em 2019, a autora ganhou na 61° edição dois Prêmios Jabuti, em duas categorias, a saber com as obras: “Histórias Guardadas pelo Rio (Editora SM), como vencedora na categoria Livro Juvenil. Nesta obra, Lúcia Hiratsuka traz a história de Pedro que busca desvendar os mistérios de um rio onde é possível pescar histórias de todo tipo. Já na obra “Chão de Peixes (Editora Pequena Zahar), ela foi premiada pela Ilustração, que é inspirada na poesia japonesa em estilo haicai e traz um convite ao leitor para dar sentido à natureza que o cerca.

 

 


Uma FRASE...

 

No fundo eu escrevo para essa criança que já fui um dia” (Lúcia Hiratsuka) - Ilustração do livro Orie, da autora Lúcia Hiratsuka. – Editora Pequena Zahar - Créditos: Divulgação

 

A LITERATURA:

 

Para Lúcia Hiratsuka a "literatura tem a ver com afeto".

São tantas as obras literárias que se torna difícil a escolha de apenas um título. Abaixo aponto algumas percepções sobre o modo como a história se constrói por meio de figuras, observando os ítens na leitura do livro sem palavra ou livro de imagem e as suas possibilidades de leitura.  O livro  escolhido foi a obra "A visita" de Lúcia Hiratsuka pela editora DCL. (Os apontamentos são baseados nos estudos da disciplina realizado no curso de Pós-graduação em Literatura Infanto juvenil pela Universidade Caxias do Sul)

"A Visita" de Lúcia Hiratsuka (Editora DCL)


(Capa do livro "A Visita" de Lúcia Hiratsuka)

 

Materialidade da obra: É um livro-imagem. 

 Projeto gráfico apresentado em livro:

 a) Códigos Imagéticos: As cores utilizadas foram: Vermelho, azul, amarelo, marrom, verde. A obra usa traços em grafite com aquarela. A autora também conta que usou uma técnica oriental chamada “sumiê” (sumi = fuligem vegeral; “e” = desenho) para ilustrar a sua obra. Sumi-e é uma palavra japonesa formada pelos termos "sumi" (tinta) e "e" (pintura). Trata-se de uma técnica de desenho com séculos de história que chegou ao Japão graças às viagens dos monges budistas provenientes da China e que atualmente também é combinada com outras técnicas para obter resultados mais originais. É uma pincelada de tinta que se usa para misturar com imagens da natureza. O que torna a obra livro de imagem uma arte e um objeto artístico conforme disseram Ramos e Panozzo (2004).

b) Os Personagens e a Narrativa: A autora conta em seu prefácio que costuma narrar suas histórias baseada em sua vivência pessoal. O personagem principal possui cores em aquarela e o personagem que visita também para serem destacados. Além do bebê, que está na cena do quarto. Enquanto os personagens secundários estão somente grafitados. Exceto algumas imagens que autora usou as cores para chamar a atenção, talvez para sugerir algum tipo de diálogo, no qual nas imagens soaram como gestual. Alguns objetos, como o carro, a arvore, o caderno de desenho, os lápis de cores, além do material o visitante também apresentava cores distintas para destacar. A narrativa da história é visual cujos elementos se apresentam-se em um universo familiar do personagem principal, que ao mesmo tempo é marcado pela presença e a partida de um visitante (Com destaque para o carro que chega e depois vai embora). O conflito surge quando o visitante provoca um certo medo no menino. O auge da história é quando a história avança para o futuro com uma deliciosa surpresa sobre o personagem que se identifica com a visita de uma maneira positiva.

 c) O Cenário: Quase todos os cenários do livro estão em tons claros e brancos. Segundo a própria autora a mesma gosta de trabalhar com os vazios entre as imagens. Com exceção da cena na página em que o menino está vigiando o visitante, que está toda colorida: a grama e o menino. Então, ele descobre que o misterioso visitante é um pintor. O menino se inspira (Acredito que esta cena se torna toda colorida quando o menino se sente admirado quando ele descobre quem é a misteriosa visita. É como se oferecesse “cor à vida”. Belmiro aponta que a utilização dos códigos imagéticos, tais como as cores dão sempre destaque à narrativa o que contribui para que possamos “ler” a imagem.

d) A Guarda do Livro e a Função da Imagens: A guarda do livro possui uma informação de algo que se aproxima. Possui Função Narrativa por apresentar a transformação que o personagem do menino sofre. Apresentou função expressiva mostrando sentimentos expressos faciais do menino, nos gestos e no uso das cores (Medo, curiosidade e surpresa). A função estética cabe à técnica oriental utilizada através das pinceladas em cores específicas.

Como trabalho de Mediação:

É uma história que atua nos elementos afetivos do leitor e que possibilita muitas maneiras de realizar uma mediação. A leitura compartilhada em família seria, provavelmente, umas das variadas possibilidades mais interessantes para desfrutar deste livro. Como estratégia básica de atração às obras desta literatura e exemplo de trabalho de mediação, usaria vídeos e conhecer um pouco da história da autora e as suas obras conforme os exemplos abaixo:

 · GRUPO EDITORIAL GLOBAL. Lúcia Hiratsuka – Biografia. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pVZNvtV35Zw.  Acesso em 06 de março de 2021.

 · ITAÚ CULTURAL. Lúcia Hiratsuka – Toca TV (2016). Itaú Cultural. Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=YDLF8qy48ac Acesso em 06 de março de 2021

 · MULHERES DE LUTA. Lucia Hiratsuka – Literatura e Ilustrações Youtube.

https://www.youtube.com/watch?v=OpOacQl3j2A. Acesso em 06 de março de 2021

 E claro, um segundo exemplo seria oferecer a possibilidade de acesso pelo toque e manuseio da obra da autora.

PARA (Não) FINALIZAR...

Para (Não) finalizar, dentre tantas obras publicadas por Lúcia Hiratsuka, torna-se um tanto quanto difícil a escolha de apenas uma obra para comentar, pois cada uma em particular merece uma admiração, principalmente sobre a cultura Japonesa. Assim como, nos desperta a criança interior e o nos remete ao cheiro de infância que existe dentro de cada um de nós e a nosso resgate na relação com a natureza ao nos adentrar em seu conjunto da obra.

 

REFERÊNCIAS:

HIRATSUKA, Lúcia. A Visita. DCL. 2011.

KANESHIRO, Flor. O que é a pintura sumi-e? DOMÉSTIKA. Disponível em: https://www.domestika.org/pt/blog/4177-o-que-e-a-pintura-sumi-e. Acesso em 06 de março de 2021.

PORTAL APRENDIZ. Lúcia Hiratsuka: Escrevo para a criança que já fui um dia. (Entrevista) In: Fundação Telefônica Vivo. Site diposnível em: https://portal.aprendiz.uol.com.br/2020/02/10/lucia-hiratsuka-escrevo-para-crianca-que-ja-fui-um-dia/ Acesso em 12 de maio de 2021.

RAMOS, Flávia B.; PANOZZO, Neiva S. P. Entre a ilustração e a palavra: buscando pontos de ancoragem. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid, nº 26, 2004. Disponível em https://webs.ucm.es/info/especulo/numero26/ima_infa.html (Links para um site externo.). Acesso em 28 de fevereiro de 2021.

RAMOS, Flávia B; PAIVA, Ana Paula. Dimensão não verbal no livro literário para crianças. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 14 - n. 3 - set-dez 2014. Disponível em

https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/5919/3671. Acesso em 01 de março de 2021.

RAMOS, Flávia Brocchetto. Livro de imagem: possibilidades de leitura. Caderno Seminal Digital, ano 21, nº 23, v. 1 (JAN-JUN/2015) – e-ISSN 1806-9142.  Disponível em https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/cadernoseminal/article/download/14927/12981 Acesso em 01 de março de 2021.

 

 VÍDEOS:

Mais informações em...

Alguns Vídeos disponíveis no Youtube sobre a autora:

GRUPO EDITORIAL GLOBAL. Lúcia Hiratsuka – Biografia. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pVZNvtV35Zw.  Acesso em 06 de março de 2021.

ITAÚ CULTURAL. Lúcia Hiratsuka – Toca TV (2016). Itaú Cultural. Youtube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=YDLF8qy48ac Acesso em 06 de março de 2021.

MULHERES DE LUTA. Lucia Hiratsuka – Literatura e Ilustrações Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OpOacQl3j2A. Acesso em 06 de março de 2021.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.