Psicomotricidade: O Psico (emoção/cognição) motor (corpo) em sua dimensão multiexperiencial (Do corpo vivido ao representado)
- (A
Psicomotricidade ajudando a entender a mente e o corpo)*
Por Jacira C. da Costa
Professora de Educação Física (UFRJ), Psicomotricista (Sócio-Titular
pela ABP) , Pós-Graduada em Psicomotricidade (IBMR) e em Educação Especial e
Incluisiva (IAVM).
Foto fonte: Mundo Brink Brinquedos Equipamentos e
Informática Educacional (Fanpage – Domínio público)
Muitas
vezes quando comento com algumas pessoas sobre a minha profissão eu digo que
sou Professora de Educação Física e Psicomotricista, o que geralmente as
pessoas perguntam: - “Psico o quê?”; E eu respondo: - “PSICO-MOTRI-CIS-TA.”. Isso
nos leva a constatar que as pessoas desconhecem qual é o verdadeiro sentido e a
principal função desta profissão. O que também nos inspira a buscar cada vez
mais respostas em termos científicos e metodológicos para informar, orientar e
esclarecer pessoas leigas no assunto e áreas afins.
Ambas as profissões (Educação Física e
Psicomotricidade) procuram trabalhar o corpo e a mente. A filosofia da Educação
Física vem do latim: “Mens sana in corpore sano” (Mente sã em um corpo são),
cuja intenção na época era lembrar aos cidadãos romanos que deveriam buscar o
desenvolvimento da saúde física e espiritual. Atualmente, a consideração do
significado da frase está no sentido da busca de um equilíbrio saudável no
estilo de vida entre mente e corpo. A filosofia da Psicomotricidade, por sua
vez, vem de uma fundamentação holística (Emocional, cognitivo e motor), mas
historicamente o uso do termo foi utilizado, primeiramente, por Dupré quem
estudou as conexões entre movimento e pensamento, e a partir disso, várias
linhas acabaram contribuindo e se aglutinado à Psicomotricidade, dentre elas a própria
educação física, a neuropsicologia, a psicanálise, a psicologia, o que a torna
verdadeiramente complexa. E muitas das vezes, servindo como principal
ferramenta de muitos trabalhos terapêuticos na área da saúde/clínica
(Fonoaudiologia, Fisioterapia, Musicoterapia, etc).
Segundo Vítor da Fonseca (2004), a
Psicomotricidade “subtende as relações entre a organização neurocerebral, a
organização cognitiva e a organização expressiva da ação”, ou seja,
compreende a ação (praxia, motricidade ou movimento intencional) como execução a
partir da planificação do pensamento. Deste modo, a psicomotricidade
inter-relaciona o componente motor ao componente cognitivo-emocional.
A sua forma de intervenção poderá ser
profilática, preventiva, educativa, reeducativa ou terapêutica. No caso da CreSer,
a intervenção será plenamente terapêutica.
Um dos critérios da Psicomotricidade é
observação e a identificação das síndromes ou transtornos psicomotores o qual
engloba diversos subtipos de desorganização do movimento, como por exemplo, o que
pode ser conhecida como dispraxia, definida por Ajuriaguerra (1970; In:
Fonseca, 2004) como “perturbação global da personalidade, da qual podem
emergir problemas instrumentais ligados à afetividade, na medida em que possuem
um caráter expressivo, independente de não surgirem de neuropatias ou miopatias”.
A dispraxia estaria ligada a um problema na planificação, regulação e controle
motor devido a uma disfunção na área cortical do cérebro. Diferentemente da apraxia,
que está ligada à incapacidade de execução e de regulação dos movimentos
voluntários e intencionais devido a uma lesão cerebral óbvia.
O
objetivo da Psicomotricidade é promover e melhorar a organização
neuro-psico-motora do indivíduo levando-o à plena consciência do eu-corporal (Consciência
de si) no espaço. Ela deve intervir a partir da mediatização das funções
psíquicas (emocionais e cognitivas) utilizando-se de diversas
situações-problema e contextos possíveis buscando assim, uma significativa
modificação psicomotora gerando uma sincronia entre os processos emocionais,
cognitivos e motor. O Psicomotricista,
durante esta mediação, deverá adotar um processo relacional contínuo com o seu
paciente, sendo ele um bebê, uma criança, um jovem ou um adulto e um idoso.
Segundo
Ajuriaguerra (1980), o desenvolvimento psicomotor estaria associado à evolução
da criança, e ao mesmo tempo, pode ser
considerado como sinônimo de maior conscientização, conhecimento e noção do seu
corpo (Imagem e esquema) na medida que passaria a incorporar e a
inter-relacionar cada vez mais o seu mundo interior com o mundo exterior (com
outro e com o ambiente/objetos), o que consequentemente gera a organização
plena de sua personalidade (integrada e construída).
O ser
humano é o seu corpo. A criança é o seu corpo. Seja esse mesmo corpo nas fases
do agido, atuante e transformador, conforme descrito por Ajuriaguerra (1972,
1974 e 1976, In Fonseca, 2004). Por isso, ela precisa vivenciar experiências
concretas que envolvam as sensações, as percepções, as imagens, as
simbolizações. E tudo isso poderá ser vivido através da prática corporal do
brincar instrumentalizado pela via psicomotora onde ela poderá passar por
diversas experiências com o seu corpo através dos odores, do toque, sabores,
etc., E esse corpo aprenderá através do corpo vivido, passando pelo percebido,
conhecido e finalmente, pelo representado (Le Bouch, 1982 1987). Segue-se como exemplo de indivíduos que
possuem uma harmonia corporal às
expressões sentimentais: bailarinos, atletas, artistas plásticos, arquitetos,
professores, musicistas, etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiquiatria Infantil. Ed.
Masson do Brasil. (1980).
- FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade (Perspectivas multidisciplinares). Porto Alegre: Artmed (2004).
- LE BOULCH. Jean. O Desenvolvimento psicomotor: do
nascimento aos 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas (1982).
- LE BOULCH. Jean. Educação Psicomotora: psicocinética
na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas (1987).
*Este texto também se encontra na fanpage da CreSer: https://www.facebook.com/cresercidi
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