terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A HISTÓRIA DA HISTÓRIA DOS CONTOS


 A HISTÓRIA DA HISTÓRIA DOS CONTOS

(Qual seria a origem dos Contos?)

 

O país das fadas. O país dos duendes, dos gênios, dos mágicos. Este é o país onde os corpos se transportam tão rápido quanto a luz. O país onde as feridas se curam com um bálsamo maravilhoso na duração de um relâmpago. O país onde se pode cair de uma montanha e reerguer-se vivo. O país onde se é visível quando se quer e invisível quando se desejar. Se existir um país ‘feético’, é justamente para que eu seja príncipe encantado e que todos os janotas graciosos tornem-se peludos e vilões como pequenos ursos.”

(FOUCAULT, 2013a)


             Durante toda a história da humanidade, o homem, mesmo não tendo consciência disso, procurou manter um relacionamento com o inconsciente coletivo  e seus arquétipos. Dentre os povos antigos, isso se dava por meio da interpretação dos sonhos e das histórias contadas ao redor de fogueiras ou embaixo de árvores (JUNG, 2016). 


O que é um conto de fada?

              Os contos de fada é considerada por Franz (1984) como uma ciência, cujo interesse histórico e científico é uma tentativa de tentar entender e responder as questões de temas repetitivos do inconsciente coletivo comum.   Existem diferentes contos de fada que fornecem quadros de diferentes fases da experiência de cada um na história da humanidade. Ao mesmo tempo em que ela afirma que :

"É uma arte que tem que ser praticada." (Marie L. Von-Franz, 1984)

História: 

          Pelos escritos de Platão, na Grécia Antiga, foram as mulheres mais velhas que contavam histórias em formas simbólicas às suas crianças, chamadas de "Mytoi". Daí vem o nome “Mito”.

           A origem dos contos de fada é algo que remota os tempos mais antigos e primitivos do qual seria impossível apontar. Muitos datam de em torno de 25 mil anos ou mais (A.C.). Eles remetem a uma possível origem de algo a muito tempo atrás ou distante sem qualquer tempo ou local específicos. O que se sabe é que a origem da palavra fada vem de “fata”, a deusa do destino ou do latim “fatum”, que também significa, o destino que é compartilhado com a humanidade. Os contos de fada seriam os contos do destino.

           Um filósofo do século II, Apuleiro (Século 2 D. C. ) escreveu a novela " O Asno de Ouro" e um conto de fada chamado "Amor e Psyche" que seria uma inspiração a história de "A Bela e a Fera" num estilo que praticamente ficou inalterado por praticamente quase 2.000 anos. O enredo envolve a história de uma mulher que redime seu amado da forma animal. A difusão se deu em diversos países, tais como: Noruega, Suécia e Rússia. Em tempos mais remotos que esse foram encontrados nas colunas e nos papiros egípicos de Anubis e Bata (S. D.). Mantém-se seus temas básicos inalterados. Até os séculos 17 e 18 os contos eram repassados e ouvidos em centros de civilizações primitivas e remotas tanto para adultos e quanto para as crianças. Na Europa, servia de entretenimento às populações agrícolas nas épocas de inverno, cujos contos representavam a "filosofia da roda de fiar" (Rocken Philosophie). A partir do século 18 obteve uma conotação científica e interpolação poética. Diziam que continham  as remanescentes velhas crenças que foram enterradas, mas foram expressas nos símbolos. Alguns pesquisadores tentaram provar que os contos de fada surgiram na Índia e depois migrou para a Europa. Outros dizem que surgiu na Babilõnia, que depois se espalhou pela Ásia menor e depois foi para a Europa. Pesquisadores Finlandeses concluíram que todos os contos que possuíram características tais como: mais rica em conteúdos, a mais poética, com mais expressões seriam as versões mais próximas do original. As outras seriam derivações. Haveriam presença de animais falantes e heróis, princesas  que salvam príncipes de maldições (Ex.: A Bela e a Fera*. E talvez, a Princesa e o Sapo).

Alguns contam que o termo "conto de fadas" foi criado pela escritora francesa Marie-Catherine d'Aulnoy, no final do século XVII. Outras teorias apontam que foi através de Charles Perrault que o termo se concretizou, principalmente destinada ao público infantil da época do  reinado de Luis XIV. 

      Séculos depois, teve início a introdução do lado místico (religião) com possíveis distorções, enxertos e omissões aos contos de fada através dos irmãos Jakob e Wilhelm Grimm, onde eles, nos escritos misturaram diversas versões que foram ouvidas nas aldeias por onde passavam. Para Von-Franz, quando se mistura diferentes versões a um conto de fada ela deixa de ser uma ciência, pois ela distorce a original, mesmo que ela possua a liberdade de induzir a isso. Enfim, mesmo assim, logo a fama deles se espalhou. Entre outros escritores se lançaram, tal como Perrault, na França.

           No século 19, Ludwing Laistner (Brilin, 1889) apresentou a hipótese de que os temas básicos dos contos de fada e folclóricos derivam de sonhos e pesadelos, principalmente.

           O que se sabe é que todos chegam a um ponto em comum: Há ocorrências repetidas de sonhos típicos e temas folclóricos ou mitológicos básicos de pensamentos elementares da espécie humana. Considerado que é comum a todos, mas que se expressa de diversas maneiras e variações em diferentes lugares.

Classificações:

 ¨Mitos 

¨Lendas 

¨Histórias Cômicas

¨Histórias com animais
¨Histórias Jocosas
¨Contos de Fada Clássico

Com a chegada da imprensa, na Idade Moderna, para não se perderem, as histórias orais começaram a ser registradas por escrito e em seguida foram difundidas entre a população.  

Alguns escritores famosos que (re)escreveram contos de fadas foram:

1) Giambatista Basile, da Itália, escreveu o conto chamado Sole, Luna e Talia (Sol, Lua e Tália)

2) Charles Perrault, da França, escreveu dois de seus famosos contos, dentre eles: O pequeno polegar e O gato de botas

3) Os irmãos Grimm, da Alemanha, que (re) escreveram Rapunzel, Cinderela e Branca de Neve

4)Hans Christian Andersen, , da Dinamarca, que escreveu A pequena sereia e O patinho feio

Obs.: Sherazade seria a mais famosa com as histórias "eternas" de "As Mil e Uma Noites "?

Carl  Jung e Marie Louise Von-Franz estudaram sobre os mitos e lendas de diversos povos.


           Marie-Louise Von Franz (2016) é uma das maiores discípulas de Jung (2016) e juntamente com ele, estudou e pesquisou sobre a origem dos contos de fada em diferentes culturas e versões variadas. Ela nos conta que os povos antigos passavam o seu tempo, reunidos ao redor de uma fogueira em florestas. Suas histórias eram recheadas de lendas e sagas locais e se passavam em determinadas épocas cujo enredo sofreram variações e que parecem interpretar os seus sonhos ou pesadelos pessoais, dependendo de quem as contava. Isso talvez explique porque muitas histórias de contos de fadas, fábulas, lendas e mitos quando contadas se passam em lugares como florestas, bosques e jardins. A autora ainda nos conta que os pontos principais e mais interessantes dos contos de fada surgiam em meio a soldados desertores, aleijados, e os pobres que levados pelo refúgio buscavam a floresta para se esconder. Todas essas histórias eram passadas através dos tempos e seu público mais específico eram os adultos. E acrescentou ainda que sempre “os heróis” das histórias são pessoas desse tipo ou são de sangue real: reis, condes, barões, príncipes. A figura do rei, geralmente, representa o consciente coletivo dominante. O herói é sempre o ser humano. Muitos mitos, lendas, fábulas e contos de fada descrevem simbolicamente um estágio inicial do processo de individuação. Todas as histórias possuem personagens de rei, rainhas, monstros, ogros, duendes, elfos, bruxas, fadas em que todos possuem um problema que precisar ser resolvido (doenças, secas, geadas, sonhos etc.), mas que há sempre no final uma solução ou um antídoto. Se observarmos bem, tudo se resume nas atitudes dos personagens que necessitam alcançar algum resultado ou solução. Geralmente, enfrentam os desafios de frente, lutam contra o inimigo, até vencê-lo, etc. Segundo, Franz (1990), há um ponto em comum em todos os contos de fada. Para ela, todos os contos de fada estão vinculados à educação da criança, o que Franz chamou de “Mythoi”.

 

              Os contos de fada e as histórias infantis são recolocadas em outra dimensão que ensinam caminhos de acesso à fantasias e à imaginação. Os contos de fada sempre iniciam com frases em comum. Eles apresentam uma motricidade tal e qual que ocorrem em “um tempo qualquer em um espaço não sei o que lá” (Grifo meu). Elas ocorrem fora de tempo e espaço: “Era uma vez...; Uma vez um...; Em uma época existia...; Havia uma vez um (...)...”. Nele, podemos ir e vir através de um “intermeio” (grifo meu), entre os devaneios utópicos e as realidades heterotópias. Marie-Luise Von Franz, nos diz que:

 Um conto de fada leva você para longe, para o mundo sonhador da infância, do inconsciente coletivo, onde você não pode ficar.” (FRANZ, 1990)

 

Referências das fotos (Domínio Público): Chapeuzinho Vermelho; O Gato de Botas; O Pequeno Polegar; Barba Azul; Cinderela.

         Nos contos de fada, suas expressões são quase sempre carregados de relatos, de sentimentos e de reações de seus personagens. E há outras narrativas que são desprovidas de sentimentos, que apenas apresentam ações do sujeito. O livro inicia com um “era uma vez”. 

          Todos os contos de fada possuem conteúdos poéticos com personagens, peritéias e conclusões. Os personagens podem ser um rei, uma princesa, uma bruxa, etc. As peritéias são os altos e baixos da história. Ela pode curta ou longa. Até que ela alcance o seu ponto decisivo e a história se encerra. As conclusões, geralmente, possuem uma moral positiva ou negativa, com ou sem sentido. Tudo dependerá do ponto de vista de quem a lê (FRANZ, 1990). Para Corso & Corso (2011), toda história possui estrutura de um sonho, porém não possuem sequência.

           Um contador de histórias pode expressar muitas metáforas usando personagens heroicos e cheios de magias, no qual pode ser relatado um problema social que é comum as pessoas. E isso pode se tornar um conto de fadas.

           Os contos de fada, assim como os mitos, lendas, fábulas falam da linguagem da alma. Cada história revestida de seus cenários e histórias possuem símbolos naturais e culturais que remetem às imagens arquetípicas primitivas e seu inconsciente coletivo desde os tempos mais remotos. Segundo Franz (1990) quando dormimos e sonhamos, principalmente as crianças, as nossas almas se abrem e nesses sonhos, quando identificamos a presença dos animais é porque alcançamos os nossos sentimentos mais primitivos e instintivos. Todo conto de fada nos remete a um nonsense utópico inconsciente que podem e já foram expressos através da arte heterotópica consciente, materializado e simbolizado pelas histórias que foram passadas de geração a geração, o que hoje conhecemos como literatura infantojuvenil.

Curiosidades:

Quando puderem, os (as) convido para acessarem esse site para conhecerem sobre "A Rota dos Contos de Fada na Alemanha".  Um roteiro turístico com 600 quilômetros de extensão, na Alemanha, que vai de Hanau, próximo a Frankfurt, a Bremen, no Mar do Norte, passando por mais de 60 cidades relacionadas com a vida e a obra dos Irmãos Grimm.

Link: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/turismo/como-e-a-rota-dos-contos-de-fadas-na-alemanha,2beae86684f3d507f35376ad8d32a9c1ihdv4xht.html

Não Finalizando... Quem conta um conto...sempre aumenta um ponto.

Cartuxaliterária.

Referências:

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 32ª ed. São Paulo: Paz e Terra. (2016).

CORSO, Diana L. e CORSO, Mário. A Psicanálise na Terra do Nunca (Ensaios sobre a Fantasia). Porto Alegre: Penso. (2011).

FOUCAULT, Michel. O corpo utópico, as heterotopias. Posfácio de Daniel Defert. [tradução Salma TannusMuchail]. São Paulo: n-1 Edições, (2013).

FRANZ, Marie-Louise Von. A Individuação nos Contos de Fada. São Paulo: Paulus. (1984).

FRANZ, Marie-Luise Von. A Interpretação dos Contos de Fada. São Paulo: Edições Paulinas. (1990).

GRIMM, Jacob; ROMERO Sílvio; PERRAULT, Charles; GRIMM, Wilhelm. A princesa que dormia. Santa Cruz do Sul, RS: EDUNISC, 1996.

JUNG. C. G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Happer Colling, Brasil, 3ª Ed. (2016).

 *Seria umas das versões mais antigas, mas esse será tema de outra postagem.

 

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